Manobras políticas (03 de maio de 1983)
Pelo que se sente, do lado de fóra, não é lá muito
fácil entender essas manóbras políticas. Essas contra-marchas e demarques da
política atual, imperante, habilmente manuseada por políticos exímios,
treinados, traquejados, bem bagageados.
Político-arte é coisa de antanho, de raras
lembranças, de efêmeras nostalgias.
Em Marília, distintos vereadores entrevistam-se com
a imprensa e declaram em alto e bom-tom que não estão tratando de interesses
próprios, quando estão.
Em Brasília, o PTB está noivando com o PDS e o
casamento parece que vai sair mesmo.
Entretanto, em São Paulo, o mesmo PTB está
exteriorizando intenções de amancebamento com o PMDB.
Síntese: os vereadores marilienses, mesmo negando-o,
aumentaram seus próprios vencimentos; o PTB em São Paulo, amancebando-se ao
PMDB, alia-se a Montoro e aprova a indicação de Mário Covas para a prefeitura
do Ibirapuera; em Brasília, o PTB nem liga para o PMDB da paulicéia e alia-se
com o PDS para formar no cordão situacionista, isto é, que irá tentar
insensibilizar o General, para não aceitar Covas. Será isso?
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Taí uma associação grosseira, como a piada do
nordestino que vinha com a família e com famílias outras, para São Paulo. O
caminhão pau-de-arara viajava durante o dia e estacionava à beira da estrada ao
anoitecer, para descanso e pernoite.
Era, como não poderia deixar de ser, aquela
verdadeira promiscuidade entre homens, mulheres e crianças.
E vem a anedota: na escuridão, todo mundo amontoado
e deitado em comum, uns dormindo, outros roncando, outros acordados, uma mulher
fez determinada pergunta ao marido e, ante a resposta negativa deste, ela
justificou “Então, tão”.
Nós, o zé povinho, eles, os políticos. O consolo é
imitar a mulher do nordestino: “Então, tão”.
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Dúvida e desabafo tristonho do caboclo no armazém ou
supermercado, ante a verdadeira orgia dos aumentos de preços, esse escárnio dos
atravessadores, estocadores, aproveitadores e poderosos, ante a miséria e a
fome dos assalariados de baixa renda:
- Eu num tenho tomóve, num bebo gazulina… qui é qui
eu tenho qui vê cum tudo subindo di preço dessa manêra?...
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Essa turma dos sóbe-preços, “tá bonitinha” e “tá
limpinha” para elevar as cotações de tudo, para aumentar a exploração de tudo.
Hoje em dia qualquer desculpa “péga”.
Já justificaram os abusos e desmandos, com o
alinhamento dos planetas, com a maxidesvalorização do cruzeiro com a
valorização do dolar, com os reajustes salariais, com os aumentos da gasolina,
até com os bicudos mexicanos (ou americanos?).
Agora tem mais subsídios justificadores para a turma
“meter a faca”; o alijamento do Corinthians da Taça de Ouro, a “zebra” do
Grêmio perdendo da Ferroviária, etc. e tal.
Aproveita, turma!
E viva o Chico Barrigudo!
Extraído
do Correio de Marília de 03 de maio de 1983
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