Pedintes estão com tudo. Andam armados e ameaçam (6 de setembro de 1973)
Sempre soubemos e fomos capaz
de discernir, em todos os escritos de jornal, os mendigos realmente
necessitados e os que fazem do estender a mão à caridade pública uma profissão.
E dissemos sempre, da
impossibilidade do mariliense comum distinguir, dentro os pedintes, qual o
falso do real mendigo.
Jamais nos cansamos de
repetir, que o óbulo dado, tanto poderia ser um legitimo auxilio, como um
estimulo para a sequência da vagabundagem, dependendo da condição, de fato ou
falsa, de quem o recebia.
Nunca tripudiamos sôbre a
desgraça ou a miséria alheia, mas vimos, como toda a população, de uns tempos
para cá, abusos e mais abusos, com a cidade infestada de matilhas de pedintes,
homens, mulheres e crianças, a maioria com aparências físicas contrastando com
a necessidade do pedir.
O que acima se asseverou,
incerto está nas coleções do nosso jornal.
ABUSOS E ROUBOS
Ultimamente, a cidade acabou
transformando-se num autêntico paraiso de pedintes. Homens fortes, muitos
relativamente novos, aparentemente capazes para a execução de um trabalho mesmo
rude, invadiram a cidade.
Causando desassossego público
nas ruas, com o eterno “me dá, me dá”, adentrando residências mesmo altas horas
da noite, para pedir insistentemente. Assustando donas de casa, empregadas e
crianças. Roubando objetos de uso domésticos dos quintais. Perturbando, mal
encarados, com aparência perigosa, exalando o cheiro azedo de cachaça ingerida.
E a cidade, a família
mariliense, passou a viver sobre uma onde de intranquilidade, com a polícia
registrando uma cifra praticamente recorde de roubos todas as noites.
Ninguém contesta isso, pois
toda a cidade o sabe, todos os habitantes tem conhecimento ou experiência desses
fatos desagradáveis.
E as ruas de Marília vinham
apresentando verdadeiras enchentes desses tipos de desocupados, vadios, ladrões
e pinguços.
POLÍCIA
AGIU
As autoridades policiais,
resolveram agir, pois a situação estava insustentável. Cidades visinhas traziam
caminhões lotados de pedintes e os despejavam em Marília. A Fepasa,
seguidamente, trazia vagões lotados de pedintes recolhidos em São Paulo.
A polícia local, numa
operação-limpeza, sem sevícias e sem maus tratos, recolheu e triou um ról
imenso de pedintes. Os verdadeiros mendigos, pedintes por necessidade, não
foram molestados e devolvidos aos seus “postos”, mesmo porque a polícia não
dispõe de condições e nem meios para seus tratos ou internamentos.
CIDADE SENTIU E
AGRADECEU
A cidade sentiu e agradeceu a
providencia policial.
Na operação limpesa, provado
ficou, que uma porcentagem bem grandiosa dos pedintes eram vagabundos, pinguços
e ladrões.
O povo ficou tranquilo e
aplaudiu.
Essa tranquilidade pouco
durou, infelizmente.
A POLÍTICA
Alguns vereadores, sem saber
bem do fato, ou sabendo bem e querendo “bagunçar o coreto”, insurgiram-se na
Câmara, fazendo indagações ao Prefeito, cujo conteúdo dava a confundir muita
gente, como se ao Chefe do Executivo tivesse culpa sobre o fato.
A atitude cassou mal estar,
porque muitos dos 100 mil habitantes, perceberam a “manobra”, inocente ou mal
intencionada.
O prefeito mandou publicar
esclarecimento, dando conta à população, que ele nada havia feito no caso,
apenas cedido por empréstimo uma viatura à Polícia, como sempre tem sido feito.
REPERCUSSÃO
A atitude da Câmara, com selo
oficial, ganhou repercussão fóra dos limites do município. Disso se
aproveitaram ingênuos ou mal intencionados, tirando casquinhas e gerando uma
promoção contrária ao próprio progresso mariliense.
Até um deputado que nunca
moveu uma palha por Marília e que talvez não conheça o prefeito, acabou pedindo
na Assembléia uma CPI para “apurar” as responsabilidades (inexistentes) de “um
prefeito desumano”.
A estas horas, o deputado em
questão, Ruy Codo, já caiu do burro.
AUMENTANDO
Vem sendo sentido o aumento
gradativo de pedintes nas ruas da cidade. Nem todos são mendigos, como assim
foram os ladroes e vagabundos, “carinhosamente” chamados pela Câmara e pelo
deputado desconhecido de Marília.
Está aumentando o número de
pedintes.
E com isso, aumentando o
desassossego público.
E também aumentando o número
de roubos.
Certamente a polícia nada irá
fazer, pois esperará as providências dos vereadores que se antepuzeram à medida
e do deputado que ouviu a galinha cacarejar e não soube onde.
ESTÃO COM TUDO
Agora os pedintes estão com
tudo.
Polícia não os incomoda. O
prefeito nunca os incomodou.
Vereadores e deputado os
defendem.
E andam até armados.
Um deles já sacou uma faca, ameaçando
populares, que não quizeram dar-lhe esmola.
Há até um médico que
testemunhou.
Extraído do Correio de Marília de 6 de setembro de
1973
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