As Tarifas Postais (05 de maio de 1956)

Não somos técnicos, para discutir o assunto; apenas, como parte integrante do próprio povo, e, como elementos de imprensa, nos assiste o direito de dar também a nossa opinião a respeito – aliás, das mais respeitáveis.

A elevação das tarifas postais, em vigor desde o dia 1º do corrente, é um fato sem precedentes na própria história do país, tal o incrível “salto” do aumento. Embora tenha o Presidente Kubitschek, beneficiado uma grande classe de servidores públicos, com u’a majoração de vencimentos, com justiça mesmo, nada mais fez do que “despir um santo para vestir outro”. Sua excia., pelo que estamos percebendo, através da repercussão que vem acompanhando as consequências dessa pirotécnica elevação das tarifas postais e telegráficas, acaba de ganhar um voto de desconfiança de grande parte do povo brasileiro.

Não estamos contra o aumento das tarifas postais telegráficas. Somos aversos, à proporção com que foi decretado. Mais de mil por cento de elevação, é alguma coisa digna de ser comentada. Principalmente quando essa elevação é partida de um poder superior.

Entendemos, que o aumento aos servidores federais – justo, repetimos – deveria ser coberto com outras fontes – compressão de contas, despesas públicas, em primeira plana; créditos especiais amortizáveis com recursos próprios de uma economia administrativa melhor concatenada, em segundo lugar.

Que se decretasse a elevação. Mas em atitudes mais humanas. Num de seus discursos, o Presidente da República declarou que existem no Brasil, grupos de sabotadores organizados. O povo, cansado, sacrificado, acaba tirando dessas declarações, considerações diferentes daquelas que poderá ter pensado o Chefe de Govêrno.

Além das inúmeras falhas que apresenta a resolução que elevou as aludidas tarifas, transformou a arrecadação postal-telegráfica num verdadeiro comércio, tantas são as exigências e condições que estabelece, arrecadando de todos os meios, o dinheiro do povo. O que é mais interessante – e nisto não existe nenhum sentimento anti-patriótico – é que o serviço postal-telegráfico brasileiro deixa muito a desejar, comparado aos mais imperfeitos de todo o mundo.

Agora mesmo, estamos notando em Marília, que telegramas procedentes do Rio e de São Paulo, ao invés de seu envio pelos meios legais, chegam em malas postais, demorando de três há mais dias para que os destinatários tenham conhecimento de seus conteúdos. Um telegrama procedente de Baurú (com endereço correto), versando sôbre assunto de morte, dirigido à família do autor desta coluna, demorou mais de 36 horas para chegar ao destino!

O aumento das tarifas, numa proporção de mais de mil por cento, é uma verdadeira sangria às classes pobres. É um ato inédito, como dissemos, na própria vida nacional.

Extraído do Correio de Marília de 05 de maio de 1956

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