Pensamento temerário (18 de maio de 1983)
Este pensamento é até algo temerário. Mas, como tem
sido invariavelmente acertado, aqui à lume.
Matéria esta foi escrita ontem (17/5/1983), no período matutino. Todo mundo sabia que o Ministro
Delfim Neto iria ainda, no mesmo dia de ontem, entrevistar-se com os ocupantes
das macias poltronas vermelhas do Senado Federal. Para uma exposição de motivos
– o jeito inofensivo e elegante de justificação.
O palpite deste pensamento: vai ficar tudo na mesma.
Com absoluta certeza, o Ministro chapiscará golfadas
de otimismo, pintará tudo cor de rosa e os Senadores, como sempre, ficarão
satisfeitos com as explicações – engolindo a isca, o anzol e a chumbada.
Só que, cá em baixo, o zé povinho, este não ficará
satisfeito. Apenas porque ele, o zé povinho, tem o péssimo defeito de não comer
cifras, números, teorias e explicações que lhe não enchem a barriga.
Se, em contrário, o resultado for outro, ou, então,
inverso, aqui vai a propositura de desculpa em tempo hábil e tempestivamente. E
o pedido de perdão pelo citado e precipitado atrevimento racional. Será, por
certo, o primeiro erro comprovado de pensamento que tal. “Sorry”.
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Preço de gasolina vai subir novamente. Com ele, o
óleo diesel. O gás liquefeito. E também a carne, o pão, o leite, os
transportes, os medicamentos, a educação, os hospitais, o vestuário, os
calcados, as mensalidades escolares, tudo. Tudinho.
Mas tem nada, não.
Delfins, Ozieis, Galvêas, Cals, Shigeakis, estes
aparecerão ante as câmeras de tevê para explicar ao povo, que tudo esta certo,
que tudo está bem, tudo azul, com pintinhas da mesma cor.
Os burros, como o escriba e muitos milhares de
outros, que se danem e que caminhem para o diabo. Quem foi que mandou eles não
estudarem para entender teorias?
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Maninho, observe só: tem fila de supermercados, povo
grita. Tem fila de INPS, povo esperneia. Tem fila de açougue, povo bronqueia.
Tem fila para receber pagamento mensal – pagamento mixuruca, bem entendido –
povo reclama. Tem fila para candidatar-se a trabalho, reclamações idem.
Filas que o povo não reclama: para fazer loteria
esportiva, para fazer aposta de loto, para comprar ingresso em campo de
futebol.
“Tâmu qui tamu”.
“Vâmu qui tâmu”.
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Palpite para o prefeito Camarinha: Rua Bahia, em trecho
compreendido desde a Avenida Sampaio Vidal (defronte a Prefeitura), até
imediações da Avenida Feijó (próximo à passagem inferior de nível), comporta –
com certeza – canteiros ou ilhas centrais.
Trata-se de uma rua larga, movimentada. Os pedestres
chegam a passar maus bocados para cruzá-la. Devido aos motoristas que se julgam
Piquets, Fittipaldis. Motorista e motoqueiro, ali, “larga o pau” para valer.
Dá até para pensar que muito motorista, desses do
tipo que pisam no acelerador, só para ver pedestre amarelar e correr, quando
nasceu já veio ao mundo dentro de um carrão, sentados atrás do volante e
fincando o pé no acelerador!
Vão ter raiva de pedestre assim lá nas porteiras do
inferno, sô!
Extraído
do Correio de Marília de 18 de maio de 1983
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