Burlando a lei (17 de maio de 1983)

Por certo, em todos os países do mundo muitos habitantes dessas mesmas nações esmeram-se, estudam, colimam e cogitam e acabam burlando as leis.

Também, por certo, poucos serão os países onde seus habitantes conseguem perder para os brasileiros. Maninho, aqui “o barato”, o “status”, a “tradição”, o “tradicionalismo”, é infringir, pisotear, desrespeitar e ignorar a lei. Nisso o nacional ganha de goleada, nadando de braçadas. Genericamente falando, entendido fique.

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Você entra em um elevador. Tem lá uma plaquetinha com a inscrição “é proibido fumar”. Pode notar, que, invariavelmente, tem um cabeça de bagre com um cigarro senão na boca, pelo menos entre os dedos.

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Código Nacional de Trânsito proíbe terminantemente as condições do tipo motocicleta e similares de trafegarem sem o miolo nos canos de escape. Note que o que é mais difícil é perceber-se ou encontrar-se uma motoca com o miolo do escapamento.

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Desde 1934, o então presidente Getúlio Dornelles Vargas preconizava e até decretava um diploma impedindo o desmatamento indiscriminado e a formação de um grande deserto, tomando conta de todo o Brasil. Daí, então, é que partiu a esculhambação geral e generalizada e nosso país está se transformando num grande Saara.

Foram criadas empresas destinadas a reflorestar, inclusive desfrutando de vantagens como incentivos fiscais e encaminhamentos de importâncias advindas de deduções de recolhimentos de impostos sobre rendimentos.

Deu no que deu. Basta ser lei para a gente fazer o contrário do previsto legalmente.

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Não é permitido andar armado. Todo mundo anda.

É proibido fumar maconha. Fuma-se à miguelão.

Uso de cocaína, psicotrópicos outros é ilegal. Mas tem gente “assim” praticando os delitos.

Sabiá é a ave-símbolo nacional. A lei protege-a e prevê até castigos e cadeias para quem destrua. Mas a turma não tá nem aí e a espécie está acabando.

É proibido pescar com apetrechos que destroem a fauna sem piedade e sem discriminação. Ninguém liga.

E assim por diante.

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No que tange à fabricação de desertos, o Governo Federal deve botar a mão em cima do problema, com urgência. Urgência, urgentíssima. Porque ninguém liga, ninguém tem amor à terra. O Brasil, uma das maiores reservas madeireiras do mundo até uns vinte anos passados, segue lépido o rumo da desordem. E, se continuar assim, dentro de vinte ou mais anos, terá que importar madeiras do exterior, para os mais simples e comezinhos usos de seu avanço tecnológico e arquitetônico.

Podem notar.

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Governo precisa fazer isso com urgência. Urgência, urgentíssima.

Maninho, cê qui é vereador aqui em Marília, bole um troço e encaminhe, via Câmara, ao Governador Montoro. Para que envie projeto de lei à Assembleia dispondo que em todo o Estado de São Paulo, qualquer propriedade rural, seja qual for a sua dimensão, seja obrigada a manter uma reserva de matas, de, no mínimo, um quinto do total da área.

E que essa reserva, quando necessária e justificadamente tenha que ser utilizada, que se providencie, aprioristicamente, plantação ou replantação de igual área, para que sempre exista no mínimo um quinto da totalidade da gleba apresentando mata.

Partiria de Marília mais essa ideia e de São Paulo um patriótico exemplo.


Extraído do Correio de Marília de 17 de maio de 1983

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