“Bicudo”, não. (04 de maio de 1983)

Matéria de primeira página, da edição de ontem deste jornal, fixou o esclarecimento de autoridade competente, de que não existe qualquer incidente da praga algodoeira conhecida como “bicudo”, em nossa região.

Dizem os entendidos de que o inseto “bicudo” é originário do México e que ninguém sabe de qual maneira o mesmo veio parar no Brasil, tendo já atacado lavouras de algodão de várias regiões do país, inclusive em nosso Estado.

Há línguas que afirmam uma outra estória, de certa forma algo pejorativa. São as pessoas que não acreditam que o “bicudo” tenha sua procedência mexicana e sim que sua oriundade é americana. 

Outros, mais precipitados ou com pré-intenções, veio mais adiante, dando conta de que o referido inseto é norte-americano e que teria sido despejado propositadamente no Brasil, por conveniências e interesses comerciais de empresas multinacionais, operadoras em ramos de inseticidas para as lavouras.

Eu nada sei, por nada entender. Todavia, a matéria ontem publicada pela nossa editoria de agricultura, me enseja o caso de comentar em sentido sugestivo ou opinativo sobre o fato. Fato que é uma praga. Praga que além dos prejuízos diretor à produção algodoeira, acarreta transtornos e contra-tempos, dos mais prejudiciais, à mencionada faixa agrícola.

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Leigo que sou – apesar de criado na roça – por jamais ter operado as práticas atuais da agricultura moderna e mecanizada e somente ter laboriado em lavoura distante hoje separados, vou consignar aqui um palpite.

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Em meu tempo de filho de colono, não existiam o bicho mineiro, a lagarta, nem mesmo o bicudo. A praga em potencial que ataca a cafeicultura era a broca. Só.

Sei que os inseticidas, herbicidas, fungicidas, venenos específicos, adubos, uréias, corretivos, enxofres, calcáreos, sais, etc., custam fortunas. Sei que noventa por cento de comércio que tal, está nas mãos das empresas multinacionais.

Isto vale dizer, que das circunstâncias das imprescindíveis aplicações dessa “medicamentosa” toda, muito dinheiro da lavoura do Brasil, em dimensão incalculável, carreia-se diretamente para o exterior, especialmente os Estados Unidos.

Uma permuta indigesta: dinheiro da agricultura, em troca de inseticidas (etc) para essa mesma agricultura.

Então, o “palpite” (absolutamente de graça).

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Quando os técnicos da Secretaria da Agricultura, perceberem e comprovarem que determinada área está com a plantação algodoeira afetada pelos “bicudos”, fazer apenas isto: entrar em acordo com os proprietários da lavoura (arrendatários, meeiros, o que forem), cercar com acêros a plantação, utilizar lança-chamas do Exército (por exemplo) e queimar toda a lavoura prejudicada pela praga. Ao envés de financiamento , o Governo que arque com uma parte da despesa, os plantadores que percebam que é melhor perder um pouco numa safra do que perder toda a safra num pouco tempo. E no ano imediato, modificar o estilo e tipo da plantação naquele local.

Fazendo-se isso, queimando-se a lavoura contaminada, em todos os pontos onde ela for constatada, o “bicudo” não terá vez por aqui, não.

E os efeitos serão mais eficazes e possivelmente menos dispendiosos e com toda a certeza mais positivos, para o bem da própria agricultura brasileira, para o menor desgaste da terra, para a melhor economia de despesas dos plantadores de algodão e – especialmente – com menos riscos para a saúde de nossos roceiros.


Extraído do Correio de Marília de 04 de maio de 1983

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