Bate papo com um caboclo (24 de maio de 1983)
Comentei, em especial, um bate papo estabelecido com
um caboclo, possivelmente analfabeto de pai e mãe.
Como havia dito, em se tratando de um homem de pouca
escolaridade, por isso mesmo uma pessoa inculta, mesmo com seu linguajar
distanciado da gramática e da pronúncia vernacular exata, vi no caipira um
espírito arguto e uma criatura de profundo sentido observatório.
Dentre outras coisas e além dos motivos por mim
revelados, disseram-me outros pensamentos através de sua palestra espontânea e
de certa forma previamente sensata.
Por exemplo:
- Parece que o eleitorado brasileiro não está ainda
convenientemente preparado para a abertura política local. Ele ainda vota em
barganha, em coronéis, em pessoas que prometem empregos ou vantagens.
- O Governo da Revolução está certo. Quem não está
certo é o escalão de seus administradores e ajudantes. Estes, ou ocultam do
Governo a verdade, ou distorcem os fatos e informam de maneira errônea, porque
não é acreditável que o Governo tenha conhecimento da realidade dos fatos e de
como vivem os brasileiros em geral.
- Durante o tempo em que prevaleceu o Governo da
Revolução, desprezando-se as mamatas e as mordomias, o povo viveu melhor. Não
se falava em assaltos a bancos e nem a postos de gasolina. Nem em greves
seguidas e em todos os setores da vida que o povo necessita. Agora, não. Apenas
falou-se em abertura democrática e todo mundo passou a badernar, roubando,
assaltando, fazendo e provocando greves e entraves à vida de todos os cidadãos.
E, como sempre, sendo que a corda arrebenta do lado mais fraco, os efeitos
principais recaem sobre os costados dos pobres e miseráveis.
Prosseguiu o paraibano deste colóquio:
- O Brasil precisa de pena de morte, para punir os
ladroes e criminosos, aqueles que violentam mulheres e crianças, aqueles que
matam e roubam bancos e postos de gasolina, aqueles que assaltam e colocam em
polvorosa toda a população.
- Para falar a verdade, sou a favor do esquadrão da
morte.
Estranhei e quis saber por que e o caboclo completou
seu pensamento, dizendo:
- Sou a favor do esquadrão da morte e também do mão
branca, porque entre todos os crimes que essas duas forças tenham praticado,
não figura homem de bem, nenhuma pessoa de bons princípios e costumes. Só
bandidos, criminosos comprovados e desconhecidos do arquivo do crime, é que
foram mortos. Daí, significa uma limpeza e uma garantia aos bons e trabalhadores,
com a eliminação dos que, por conta própria, não querem enquadrar-se no caminho
da decência e da dignidade dos homens que trabalham e ajudam o crescimento da
Pátria.
Arrematou o nordestino que esteve em Minas e no
Paraná:
- Inda agora, a televisão (ele tem tevê preto e
branco, confessou) está fazendo uma campanha para saber como vai viver o
brasileiro no ano 2.000. Essa campanha nem precisa ser feita. O que precisa é
garantia e segurança. Segurança, sim. Com segurança o brasileiro se vira, dá um
jeitinho em plantar, em melhorar a vida, dá um jeito de viver acertadamente.
Mas precisa segurança, para que a mulher dele possa sair para o trabalho ou
para fazer compras, para que os filhos possam ir sossegados para a escola, para
que o homem possa viajar e se locomover tranquilo, para que não existam
assaltantes em bancos, para que não haja violências sexuais e para que todos
vivam tranquilos em seus trabalhos, especialmente em sua casa. Só com essa
segurança o brasileiro viverá. E essa segurança só será possível desde que haja
uma pena capital, para acabar com os bandidos – finalizou o paraibano.
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