O advento do petróleo (22 de dezembro de 1974)
Em fins de 1945 – há 29 anos
passados – através desta mesma coluna, que na ocasião identificava-se como
“Mensagem do Observatório”, ao envés de “De Antena e Binóculo”, como se mantém
há mais de 20 anos, escrevi consubstancioso artigo enfocando a descoberta do
petróleo brasileiro.
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Foi um artigo impregnado de
otimismo – lembro-me bem.
Justificava-se perfeitamente,
a razão da euforia íntima, que transferi em letras de forma, para os leitores
deste jornal.
Era eu, recém-chegado do
fragor dos combates da guerra da Itália, recém-desligado do Exército. Trazia, vivíssimos no sub-consciente, os episódios e as imagens dantescas dos embates
armados, a lembrança tenebrosa das passagens funestas das mortes e ferimentos
de muitos “pracinhas”.
Experimentava a natural
dificuldade de readaptação no organismo da vida civil. Vivia a sensação
inenarrável da liberdade e da distância da guerra e vibrava ininterruptamente
pela felicidade do retorno à Pátria.
Esses fatos, adicionados ao
patriotismo e brasilidade que em mim transpiravam, fizeram-me euforizar, ao
redatoriar o alvorecer da era do petróleo, cujo óleo negro principiava a jorrar
no município de Candeias, Estado da Bahia.
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Era mais uma prova das muitas
riquezas do solo brasileiro, dizia eu, que viria a provar aos povos do mundo a
grandeza e a segurança futura do Brasil como país do porvir, que em menos de
meio século assombraria as nações mais adiantadas.
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Sentia-me ferido em meu
patriotismo, porque, em mais de um ano no exterior, havia travado contacto com
norte-americanos, italianos, ingleses, franceses, sul-africanos, russos,
gregos, marroquinos e canadenses, cujas pessoas tinham do Brasil a mais errônea
das concepções: julgavam eles, em absoluta maioria, que o Brasil “era uma terra
de índios, de muitas matas virgens, animais selvagens, gigantescas cobras e
muitos crocodilos”.
Essa mágoa fizera-me
“vomitar” um verdadeiro libelo de brasilidade ao focalizar aquilo que refutei
como “o advento do petróleo brasileiro”.
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Essa lembrança ocorreu-me
agora ao conhecer um pronunciamento do Ministro das Minas e Energia, Shigeaki
Ueki, sobre a descoberta de petróleo no Estado do Rio de Janeiro.
Declarou o Ministro bastense
que “o Brasil não precisará mais importar petróleo, se pelo menos dois dos doze
novos poços que vão ser perfurados no litoral de Campos revelarem o mesmo
potencial do poço de Garoupa”.
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Mais tarde, em São Paulo, o
mesmo Ministro Ueki, em palestra com jornalistas paulistanos, afiançou que a
Petrobrás não tem interesse em associar-se a grupos estrangeiros para a
exploração do petróleo.
Essas duas afirmativas do
ex-bastense, Ministro Shigeaki Ueki, apresentam o mesmo e análogo sentimento
que me fez, em fins de 1945, escrever o artigo que aqui refiro e recordo, sobre
o evento do petróleo nacional.
E garante-me a convicção de
que, sem que isto venha a representar profecia, de que me não equivocava na
ocasião em que expressava a minha mais absoluta certeza e confiança, de que
daquela época há 50 anos futuros, o Brasil teria a mais absoluta independência
na produção de petróleo para seu consumo interno e poderia, inclusive, chegar à
condição de exportador do produto.
Por enquanto, tudo vai indo
bem certinho e bem ajustadinho ao citado escrito, que, na ocasião, fez-me
merecer de um médico mariliense, ainda aqui radicado, a contundente expressão de
um “coitado sonhador”.
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