Otimismo prejudicial (05 de setembro de 1974)
Dispositivo constitucional e
fruto advindo da Revolução de 64, existem em vigência legal duas correntes
doutrinárias que identificam a política nacional.
Uma representada pelo partido
governamentista, Aliança Renovadora Nacional – ARENA.
Outra, encarnando a ala
oposicionista, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB.
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Antes do último pleito
eleitoral, o partido da oposição vinha constituindo-se de uma debilidade à toda
prova. Observadores políticos não ocultavam inclusive a previsão de um
depauperamento gradativo e consumador das forças contrárias ao partido do
governo.
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Os próprios resultados e
cifras das urnas eleitorais justificavam a feitura de pensamentos desse jaez.
Em alguns casos, líderes emedebistas chegavam até a não disfarçar o
enfraquecimento do partido.
No reverso, a medalha gerava
uma espécie de psicose de otimismo, que dominava quase toda a cúpula arenista.
Em muitos casos, parece até que os políticos da situação acomodaram-se e
dormiram sob os louros e as sombras dessa situação vitoriosa, que parecia não
vir jamais a sofrer solução de continuidade.
Como tudo o que se descuida
ou se não conserva tende a enfraquecer, ou envelhecer, ou perder valor, essa
onda de otimismo acabou por ocasionar prejuízos ao próprio fortalecimento do
partido situacionista.
Se, por um lado, não chegou a
significar um carunchamento da madeira arenista, o certo é que permitiu uma
fermentação mais poderosa e mais fortalecedora, em diversos ângulos da facção
doutrinária oposicionista.
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Cite-se, como exemplo dessa
afirmativa, a situação real da Arena mariliense. O partido da situação, em
Marília, é ao mesmo que uma nau sem rumo, um tonél de incompreensões.
Seus membros não sintonizam
harmoniosamente. Várias reuniões convocadas pela direção máxima da Arena local
foram “furadas” inexplicavelmente. Disso resultou maior configuração de
desarmonia. Dessa desarmonia fomentou-se, de certa forma, grande dose de
descrédito público.
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Mesmo no tocante à união e
coesão de forças, para a indicação de um candidato a deputado, o partido
situacionista mariliense transformou-se numa Babel, numa colcha de retalhos.
Delongou-se demasiadamente.
Os protelamentos arrastaram-se por tempo exageradamente desnecessário. A
desarmonia sentou praça, chegando a exigir uma tomada de posição essa que nunca
aconteceu.
Ninguém conseguiu ombrear-se
e a divisão de idéias tornou-se palpável.
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Como se isso não bastara,
elementos da Arena aumentaram ainda mais da divisão de forças e muitos
vereadores arenistas abriram suas baterias contra o prefeito pertencente à
própria Arena.
Isso veio adicionar-se ao
enfraquecimento da ala situacionista local. Somando-se aos prejuízos que já
eram patentes, da existência de um otimismo prejudicial, esse lamentável “modus
operandi” da política situacionista local ensejou maneiras de maior crescimento
do partido oposicionista.
Percebe-se isso com a
manifestação espontânea do zé povinho, que não esconde sua insatisfação com o
estado de coisas que caracteriza a atual política mariliense.
Percebe-se, também, com muita
gente dando crédito em maior escala a candidatos não pertencentes à Arena.
Dirigentes arenistas talvez
não tenham a mesma facilidade em auscultar o zé povinho, como o faz, por fé de
ofício, o jornalista e repórter.
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Ao não ser que se reformulem
as ações da política local, com endereçamento correto, o partido da situação,
aqui em Marília, virá a ser o responsável por uma degringolada e pelo desprestígio
público – que não se coaduna com os princípios e o espírito da Revolução de 64.
Extraído do Correio de Marília de 05 de setembro de
1974
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