O surto de meningite (11 de setembro de 1974)


Comentava dia outro com o jornalista, determinada leitora deste jornal, motivos sobre o surto de meningite.

No decurso da palestra, a madame afirmou, de maneira delicada – por certo para não ferir susceptibilidade – que a incidência do mal não tinha as proporções difundidas. E que, parcial responsabilidade da intranquilidade pública, recaia sobre a imprensa e rádio pela divulgação “exagerada” do assunto.

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Fiz ver à leitora de que ela estava equivocada.

Mais ainda que, no início da incidência, a imprensa ocultou até a veracidade dos fatos, com respeito ao índice de internamentos hospitalares.

Citei palestra anteriormente por mim estabelecida com um médico de São Paulo, que confidenciara-me peremptoriamente, de que as autoridades médicas não estavam fornecendo a realidade dos números, por medida de precaução e para evitar um pânico generalizado.

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Em efeito, o citado facultativo contava-me que o Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, havia até esgotado sua capacidade de leitos e que doentes estavam sendo atendidos inclusive em camas dispostas até nos corredores de muitos hospitais.

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Em outras palavras, quando a imprensa noticiava, por exemplo, “mais 15 casos”, esses “mais quinze casos” estavam representantes, em realidade, “mais de 100 casos”.

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O mal perdura ainda.

Mais de mil e quatrocentos casos de internamente registraram-se em São Paulo, conforme divulgações da imprensa paulistana de domingo último.

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Não exagerou a imprensa, conforme julgou a leitora. Nem poderia fazê-lo, mesmo porque a imprensa nada inventou sobre o mal, limitando-se a informar o acontecido.

Não pecaram as autoridades sanitárias, também, em omitir propositadamente e no início do surto, a cifra real dos casos comprovados. A medida, como ficou dito acima, teve a finalidade de evitar a intranquilidade geral.

Agora, as próprias autoridades não fazem segredo disso, pois, passado o impacto inicial da incidência do mal, o próprio público já está em condições de melhor assimilar o fato, sem o risco do desassossego que poderia gerar pânico, se noticiado abruptamente.

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Ante-ontem, estive em Sorocaba e em palestra com um médico daquela cidade fiquei sabendo de que o surto não apresentou o decréscimo que se esperava. Que, em contrário, havia registrado aumento de casos comprovados do mal.

Prova de que o número de internamente de pessoas, geralmente menores, portadores de meningite, subira de maneira impressionante no final da última semana.

Todas as providências cabíveis e possíveis haviam sido adotadas.

Revelou ainda o médico de que em muitos casos a própria classe médica e os estudantes de medicina chegavam a temer pelas ruas próprias imunidades físicas com respeito à contaminação do mal.

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Vacinação geral e em massa deverá acontecer em breves dias, com o escopo de debelar a incidência e de evitar o surgimento de novos casos.

Extraído do Correio de Marília de 11 de setembro de 1974

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