Se é para esculhambar… (20 de agosto de 1976)


Em fins de 1945, advoguei através deste jornal o despertar de interesses de nossas autoridades com objetivo de sensibilizar os altos dirigentes da Lojas Americanas, a-fim de que nosso comércio fosse dotado de uma das filiais da referida empresa.

Não fiquei sabendo se alguém se interessou e nem se os diretores da citada firma tiveram ou não conhecimento do teor de meus escritos.

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Muitos anos mais tarde voltei minhas vistas para o problema de supermercados, clamando o primeiro desses estabelecimentos para Marília.

Muitos comerciantes não gostaram na ocasião.

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O mariliense Julio Giaxa principiava a reformar o prédio onde hoje se localiza o Bar Yara, na Rua 9 de Julho. Entusiasmei-o a abrir ali um supermercado. Propus-me a levá-lo a Sorocaba para que ele conhecesse o Supermercado Ven-Ká, situado em bairro distante do centro.

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Mais tarde, ainda sugeri a formação de um capital social, citando mesmo nomes como Montolar, Novaes e outros, com o fim de adquirir o prédio onde hoje está instalada a Padaria Xereta, para ali montar um grande supermercado mariliense.

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O sistema de supermercado, por analogia, foi iniciado pelo Saps.

E começaram a surgir os supermercados marilienses. E hoje nosso comércio é vibrante e movimentado, com os supermercados marcando ponto alto e dinamico.

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Fico a cavaleiro da situação para falar sobre supermercados, pois ignoro que exista uma voz, antes da minha, para reivindicar os mesmos quando tais estabelecimentos não existiam em Marília.

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E os supermercados vão fechar aos domingos em Marília.

Eu manifestei-me e tomei posição contra a medida, embora tal atitude não represente nada contra a honrada classe dos comerciários.

Marília vai tornar-se uma cidade morta aos domingos. Cidade de vida, sem beleza, sem movimento, sem alegria, dificultando as próprias famílias marilienses.

Supermercados em Marília representam, em proporções, algo equivalente a um ponto turístico.

Os próprios gerentes e supermercados sabem disso e tal sentem, quando marilienses autenticos, lhes apresentam amigos ou parentes de fora, que aquí aportam a passeio.

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A Lei prevê, fixa e garante o descanso semanal remunerado. Então, esse, o descanso, não seria o problema.

O referir-se a classes outras, que não trabalham aos domingos, parece não proceder muito bem, pois existem muitas classes que trabalham diuturnamente.

Hospitais, médicos, bombeiros, policiais, trens, ônibus, maternidades, fábricas, emissoras de rádio e televisão, bares, restaurantes e tantas outras classes trabalham todos os dias, porque servem a coletividade.

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Os supermercados vão fechar aos domingos.

Sabe-se que as padarias, louvadas nessa lei, também vão pleitear o fechamento aos domingos.

Que procurem fomentar desde já esse ideal, porque, sendo época pré-eleitoral, o assunto se tornará mais fácil.

E que façam o mesmo os açougues e os postos de gasolina, porque, assim, se poderá parodiar aquele vereador que, ao apresentar projeto de colocação de um retrato na Câmara, declarou textualmente ao funcionário legislativo:

- Se é para esculhambar, vamos esculhambar…

Extraído do Correio de Marília de 20 de agosto de 1976

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