Recursos e médias (31 de agosto de 1976)
Piada, esta:
No quartel. O sargento vê uma
cadeira à entrada da porta da Casa das Ordens, impedindo o livre trânsito. Olha enfezado para o primeiro soldado que alí passa em serviço e pergunta:
- Quem foi o animal que
deixou essa cadeira alí na entrada?
E o soldado, perfilado,
respondeu:
- Foi o coronel, sargento.
No mesmo instante ia passando
um tenente e o sargento, berrando nos ouvidos do soldado:
- Três dias de xadrez, por
ter chamado o coronel de animal.
--:--
Foi um recurso, uma saída,
essa do sargento. Nada honesta, mas foi uma saída, porque ele ficou com a barra
limpa perante o tenente, ficou com um falso defensor do coronel, à custa do
pobre soldado, que teve que puxar três dias de xadrez.
Por um lado, o recurso. Por
outro, a média.
É o que fazem muitos, por aí.
Mesmo aquí em Marília.
O recurso, desde que não seja
em prejuízo de outrem, é válido, denota presença de espírito, reflexo e
inteligência.
O que não acontece com a
média.
E tem gente mediando por aí,
que é uma barbaridade!
Especialmente nesta época
pré-eleitoral.
--:--
Contou esta o radialista
mariliense Osmar Santos, quando da realização do curso de noções de jornalismo,
que a Sociedade Amigos da Cultura promoveu recentemente:
Maracanã lotado. Seleção
brasileira enfrentando um selecionado estrangeiro.
Jogo emocionante. Estádio
cheio. O Brasil todo acompanhando pela televisão e pelo rádio.
Foi quando surgiu o primeiro
gol do Brasil.
Edson Leite, transmitindo a
peleja, anunciou o gol: “Riveeeliiinooo”… Mario Moraes fez aceno negativo com a
cabeça e Edson Leite gritou em seguida: “Garrrriiincha”… novo aceno negativo de
Mario Moraes, soprando no ouvido de Edson Leite o autor do tento e o Edson Leite
foi em frente: “…para Zito completar o primeiro gol do Brasil… Ziiiito…”
Foi um recurso simplesmente
notável. A vacilação de Edson Leite deu um empolgamento diferente ao gol
brasileiro, sem que os ouvintes percebessem a dúvida do narrador, na citação do
nome do jogador, no momento exato em que se consumava o tento.
--:--
A média já não é isso.
A média, di-lo bem o termo,
hoje generalizado e facilmente interpretativo, embora seu significado não se
conste em dicionário, representa o lado da sombra. O intento de estar de bem e
agradando a gregos e troianos.
Pode ser a média seu sentido intrínseco de lealdade, mas nunca deixa de ter eivas de covardia ou
acomodamento.
Em Marília tem gente que faz
mais média do que as que se vendem nos cafés.
Isto é falta de
personalidade, de firmeza.
--:--
Vimos isso por ocasião da
balburdia originada em torno do movimento que acabou por decretar o fechamento
dos supermercados aos domingos.
Coluna esta manteve posição
única, indesviável e irreversível.
O que não aconteceu com
pessoas outras, que fizeram médias sobre médias, ora de um lado, ora de outro,
numa falta de personalidade e num esbanjamento de coerências.
Comentários