Manias e “hobbies” (19 de agosto de 1976)
Todo mundo tem manias.
Há quem não se aperceba
disso, mas todo mundo tem uma maniazinha qualquer.
Hoje, decidiram chamar muita
mania de “hobby”.
Isso já é uma mania: a mania
da imitação.
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Numa cidade aquí perto existe
um comerciante conceituado e respeitável. Ele tem seu “hobby”. “Hobby” ou
mania. De certa forma, esquisito.
O “fraco” desse homem é lavar
defuntos. Morra quem morrer, é só chamá-lo e ele atende solícito e de certa
forma satisfeito.
É isso aí.
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Era uma vez…
Um nordestino, moreno alto,
que gostava de andar bem “aprumadinho” e que tinha mania de usar palheta na
cabeça e terno branco no corpo.
Sua mania éra inteligente.
- Lá nas Alagoas, estudei
dois anos com o professor Thiago e no Recife estudei três anos com o professor
Soveral – dizia com enfase e indisfarçável orgulho.
Se a gente falava alguma
coisa, ele interferia na conversa para tentar destacar-se pela sabedoria de
todo e qualquer assunto. E indiretamente “dar” aula e banho de civilização em
todos.
E sucede que conseguia, pois
já havia criado uma espécie de mito de sua infalível inteligencia e inatingível
cultura.
Era o João Baiano. Assim o
chamavam, mas seu nome era Antonio João da Silva. E não éra baiano.
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A mania de João Baiano éra
“esbanjar” inteligencia e conhecimentos, impondo-se e sobressaindo-se aos
demais.
Mas o nordestino tinha também
um “hobby”. Gostava de discurssar.
Era só acontecer qualquer
reunião onde estivesse meia dúzia de pessoas e o homem aproveitava a chance e
“lascava” logo um discurso.
Havia um casamento, o João
Baiano discursava. Morria uma pessoa, discursava também. Uma festa, um baile,
ele achava um jeitinho de mostrar suas qualidades de orador.
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Um grupo de pessoas cismou de
fazer uma reunião para formar um time de futebol. Futebol de sítio.
O João Baiano ficou sabendo.
E, mesmo sem ser convidado,
chegou ao local antes dos demais.
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Os homens se reuniram e
conversaram sobre o assunto.
E ficou acertado que cada
qual compraria suas próprias chuteiras e que se faria um baile com ingressos
pagos, para a compra da bola e do jogo de camisas.
Assim que isso ficou decidido,
o João Baiano “pisou no pedaço”, pigarreando para chamar as atenções e iniciou
um discurso:
- Assim como Cristóvo Colombo
fundô a América, nóis, na data di hoji fundámu esta sociedade…
- Pára, pião – foi o que se
ouviu de um gaiato entre os presentes.
E o orador, sem olhar
fixamente para alguém, continuou.
- Pião, não; porém, altista…
porque altista é Cuma a locomotiva, que percorre os horizonte da vida…
- Quieto, nego – disse
novamente o gaiato.
E o João orador prosseguiu:
- Nêgo, também não… isso da
ipidérmia da cor não inflói e nem contribói…
E quando o pessoal já
começava a mover-se impaciente, o gaiato “atacou de rijo”:
- Cala a boca, burro.
Foi a conta. João Baiano
olhou feio para todos e desabafou:
- É anssim mesmo… o brasilêro
ainda num istá acostumado cum a inteligença dus hómi… i é purisso qui ásta m…
num progréde…
E afastou-se enfezado.
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São manias. Manias e
“hobbies” que existem em toda a parte.
Em Marília, por exemplo, tem
gente sem as devidas condições com mania de ser vereador…
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