E agora, José? Quid prodest? (21 de agosto de 1976)
Quid prodest? – é uma locução
latina que significa o mesmo do que “de que serve?” ou ainda “que adianta?”
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A partir de amanhã o comércio
de Marília estará morto. A cidade amanhacerá triste, com um ar de abandono, sem
aquela graça e aquela vibração que sempre Marília teve, desde que aquí
aportaram os primeiros pioneiros de teu progresso.
Bento de Abreu iria ficar
triste e aborrecido, com a cidade que ele tanto amou e que, nesta fase em que o
Brasil vai para a frente, Marília, por vontade própria, vai para traz.
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Não se pode fazer prevalecer
interesses de uma só parte. Não somos contra a honrada classe comerciária, mas
não podemos compreender que se preocupe somente com esta, sem considerar a
outra, que é a classe consumidora. E esta foi grandemente prejudicada.
As donas de casa estão
prejudicadas. Os homens da lavoura estão prejudicados. Eles não compram em
supermercados, mas compram em “Varejões”, no próprio Mercado, em armazéns de
bairros de saldos e entradas da cidade.
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Nós podemos falar sem que o
ponto de vista signifique posição contra os comerciários. O que somos é contra
a medida, emanada de lei específica, que só analisou um lado, que pretendeu,
através de alguns legisladores, ser favorável a uma classe, sem ter se detido
em resultados e consequências.
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Particularmente, eu,
encontro-me à cavaleiro para dissecar o assunto.
Foi (a
minha) a primeira voz, em Marília, que se levantou para clamar pela
necessidade de dotação de supermercados em nosso comércio.
Sou comerciário, também, como
empregado assalariado, regisdo pela Consolidação das Leis Trabalhistas, além de
subordinado à Lei de Imprensa.
Sou consumidor e me senti
prejudicado ou contrariado em meus interesses e conveniências.
Fui diretor da Associação
Comercial de Marília.
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Pede-se que se prestigie
nosso comércio e fecha-se esse comércio.
Este jornal ombreou-se na
campanha da ACM, criando o “slogan”: “Ponha o comércio de Marília no seu
coração”.
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Pela divulgação da ACM
permanecerão fechados aos domingos “os estabelecimentos comerciais de generos
alimentícios, mercearias e supermercados”.
Mercado Municipal vende
genertos alimentícios. Deverá estar fechado.
Quitandas vendem generos
alimentícios.
Deverão fechar.
Açougueiros vendem generos
alimentícios.
Restaurantes vendem alimentos
e alimentos são generos alimentícios.
Bares vendem generos
alimentícios também.
Devem fechar.
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Mesmo funcionando o Mercado,
os bares, os açougues e os restarantes, estes não substituirão jamais os
serviços inestimáveis que os supermercados Pastorinhom, Superbom, São João,
Brasil, Pereira, Okamoto, Koga, etc., prestaram até aquí à população
mariliense.
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As donas de casa estão
aborrecidas com a medida.
Povos de cidades vizinhas
estão admirados com esse regresso do progresso mariliense.
O comércio clandestino está
estimulado, pois quem precisa de uma simples lata de extrato de tomate, ou um
pacote de macarrão, ou mesmo um pedaço de sabão – todo mundo pode precisar
disso num domingo, inclusive um dirigente de associação comercial ou até um
gerente de supermercado – tem que procurar. E vai ao empório mais próximo,
comprar mesmo pela porta da cozinha.
Isso redundará em atividades
para a fiscalização e aplicação de multas contra os comerciantes.
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Eu estou preparado para que
não falte nada em minha casa amanhã. Mas poderá acontecer um imprevisto, poderá
ter acontecido um engano, ou mesmo um esquecimento, ou uma falha qualquer.
E eu irei até o fundo de um
empório conhecido pedir que me vendam o produto que careço.
E farei isso com bastante
aborrecimento, porque o vibrante comércio mariliense está morto.
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