Amanhã, Dia do Papai (07 de agosto de 1976)
Sendo domingo o dia de amanhã
e não circulando esta coluna, abordaremos no espaço de hoje a motivação do Dia
do Papai.
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Fomos buscar aquilo que de
mais sublime se nos pareceu para traduzir todo o anelo, todo o amor, toda a
esperança de um pai por um filho.
Uma prece.
A “Prece de um soldado por
seu filho”.
De autoria do grande cabo de
guerra do Exército Norte-Americano, General Douglas Mac Arthur, que comandou as
tropas aliadas nas batalhas da África e que teve participação na invasão da
Europa, em princípios de 1944.
Esta, a “Prece de um soldado
por seu filho”.
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“Faze, Senhor, de meu filho
um homem tão forte, que saiba quanto é fraco; e bastante bravo, para se
enfrentar a si mesmo, quando tiver medo; um homem altivo e inflexível quando
for derrotado numa luta honesta; e humilde e manso quando for vitorioso.
“Faze, Senhor, de meu filho,
um homem cujos desejos não tomem o lugar dos átos; um filho que Te conheça – e
saiba conhecer-se a si mesmo, a pedra fundamental de toda a sabedoria humana.
“Conduze-o, rogo-te Senhor,
não por caminhos fáceis e cômodos, mas sob a pressão e o incentivo das dificuldades
e das lutas.
“Ensina-o, Senhor, a
manter-se firme durante as tempestades, ensina-o a ter compaixão dos que
falham.
“Faze-me de meu filho um
homem de coração limpo e ideais elevados; um filho que queira dominar a si
mesmo, antes de querer dominar os outros; que anteveja o futuro, porém sem
jamais esquecer o passado.
“E depois que ele for o
Senhor dê tudo isto, dá-lhe, fogo-Te, Senhor, bastante senso de humor, para que
possa sempre ser sério, sem contudo encarar a sí mesmo com excesso de seriedade.
“Dá-lhe, Senhor, a humildade,
a simplicidade da verdadeira grandeza, o espírito compreensivo da verdadeira
sabedoria e a bondade da verdadeira força.
“Então, eu, seu pai, ousarei
murmurar:
- Obrigado, Senhor, eu não
vivi em vão!”
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Por outro lado, de autor
desconhecido, transcrevemos a seguir um fragmento filosófico dos mais
realísticos sobre “O que o filho pensa do pai”.
Eis esses fragmentos:
* AOS 7 ANOS: “Papai é um
sábio. Papai sabe tudo”.
* AOS 14 ANOS: “Parece que
papai se engana em certas coisas que diz”.
* AOS 20 ANOS: “Papai está um
pouco atrazado em suas teorias, pois não são da nossa época”.
* AOS 25 ANOS: “O ‘velho’ não
sabe de nada. Está caducando, decididamente”.
* AOS 35 ANOS: “Com minha experiência,
meu pai nesta idade seria milionário”.
* AOS 45 ANOS: “Não sei se
consulto o ‘velho’ neste assunto, pois talvez ele pudesse me auxiliar”.
* AOS 55 ANOS: “Que pena que
o ‘velho’ tenha morrido. A verdade é que ele tinha umas idéias e clarifidências
notáveis”.
* AOS 60 ANOS: “Pobre papai.
Era um sábio e era tão bom. Como lastimo e me arrependo de tê-lo compreendido
tão tarde”.
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Agora, na espontaneidade de
um dos muitos conteúdos desta “Antena”, a transcrição do escrito “Filosofia de
Roça”, aqui publicado em 16 de julho de 1969:
“Conheci um espanhol,
imigrante e semi-analfabeto, que sempre qui-lo muito bem. Tive sobejas razões
para isso: era meu pai.
Meu ‘velho’ era daquela gente
que se pode chamar de ‘sem sorte’. Apesar de muito trabalhador e atirado para
qualquer tipo de negócio ou trabalho, acabou morrendo pobre. Tentava tudo o que
podia. Não media sacrificios e não tinha medo de nenhum trabalho.
“O homem tem obrigação de
trabalhar, mesmo que não dependa do trabalho para viver” – era o que sempre
afirmava. E me botou “no batente, já aos 7 anos de idade. Foi no ano de 1929.
No mês de setembro, melhor recordando.
Vou comemorar em setembro uma
boda qualquer. Quarenta anos de trabalho constante. E foi olhando na folhinha
aqui da redação que me veio isso à lembrança.
“Trabalho não mata ninguém;
se matasse, eu já estaria morto há muito tempo” – afirmava sempre o ‘velho’.
Na sua falta de cultura,
tinha sempre uma grande sabedoria – fruto da experiência da própria vida. Tinha
boas ‘tiradas’ e de vez em quando arrumava um sal de filosofia. Filosofia
espontanea, natural, que ostentava certa lógica.
“Nunca tive fé em homem que
usa costeleta fina e comprida” – asseverava. Naquele tempo, poucos usavam o
referido apendice de barba.
“Para mim, homem que anda com
gaiola de passarinho ou com galo de briga debaixo do braço, não tem valor
algum” – dizia sempre.
“Não é todo preto que pode
ocupar cargo, ter posição ou dinheiro”, dizia, em brincadeira, para um negrinho
que criava como filho. E o Joaquim (era o nome do crioulo) acabou “aprontando”.
Quando ninguém esperava, o pretinho “catou” todas mensalidades do leito que o
‘velho’ fornecia aos fregueses da cidade e “se mandou”.
“Caboclo que escolhe serviço
é vagabundo; o homem do trabalho não enjeita atividade”, assevera. “Mulher deve
ser como é; sem pinturas e sem enfeites para parecer bonita; antes de enganar
os outros, ela engana a sí própria”.
Quando fracassava num
empreendimento, tentava a justificativa: “Um dia tem que chover na minha horta;
quem anda direito e não faz nada para prejudicar o próximo, tem que ter uma
recompensa um dia qualquer”.
Tentava de tudo. Fôra
comerciante, viajante, carpinteiro, fazendeiro, leiteiro, fabricante de
cadeiras e meses, açougueiro, mascate, lojista, boiadeiro, hotaliceiro,
lenhador, enfim, tudo o que lhe permitia fazer dentro de suas condições de
operosidade e nenhuma intelectualidade.
Era uma venda na beira da
estrada.
Numa tábua, eu, criança de
grupo escolar, desenhei um boneco, “dando numa banana”. E escrevi um versinho
sob o desenho. Era assim o verso.
“Amigo e companheiro / aqui
mora o barateiro / que vende o ano inteiro / mas que só vende a dinheiro”.
Descuidei um pouco e o
‘velho’ apanhou o pincel e rabiscou por baixo do versinho:
“E quem não tiver dinheiro /
leve a banana do companheiro”…
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