Ainda sobre os americanos (11 de agosto de 1976)
Escrevi ontem (10/8/1976) sobre o povo norte-americano, que
classifiquei como bacana, tendo inclusive esclarecido o porque de tal
consideração.
Para reforço do mesmo tema
vou citar alguns detalhes configuradores de tal pensamento.
--:--
Dezembro, 2, 1944.
Meu trabalho – III/6º. RI, a
primeira tropa a atacar Monte Castello – havia sido submetido por elementos do
Iº. e IIº. Regimentos de Infantaria e encontrava-se na cidade de Porreta
Therme.
Eu e mais quatro
companheiros, após “salivar” o Ten. Dantas Borges, conseguimos permissão para
um passeio a Pistoia, depois de 73 dias de ininterruptos combates.
Em Pistoia, unimo-nos a um
soldado americano e ao entardecer, quando pretendiamos retornar, avariara-se o
rotor do jipe. Procuramos três ou quatro oficinas militares do Exército
Americano, mas não nos atenderam, por falta de Requisição do Exército
brasileiro.
E o soldado americano que
estava conosco e que tentava “quebrar o galho”, acabou encontrando uma solução:
enquanto nós conversávamos com o sargente chefe de uma oficina, ele roubou a
peça referida que nos entregou mais tarde.
--:--
Outubro, 5, 1960.
Num avião da Força Aérea
Brasileira, rumo aos Estados Unidos, aterrisamos na Base Aérea Norte-Americana,
na cidade do Panamá. Alí deveríamos pousar para prosseguir viagem no dia
imediato.
Seriam 16 horas e obtivemos
permissão para conhecer a cidade, devendo retornar à Base até às 22 horas.
Eu, o Juca e o jornalista
Fernando Fortarel, das “Folhas”, estávamos em dúvida quanto ao caminho que nos
conduziria à cidade.
Ví uma senhora, junto a um
“Bel Air” luxuosíssimo. Julguei tratar-se de uma panamenha e dirigi-me à mesma,
para perguntar. Nada entendeu de espanhol, informando que era americana. Repetia
a indagação em inglês e a mesma, além de informar-nos, se prontificou a
conduzir-nos à cidade. E o fez.
Era a esposa do Brigadeiro
comandante da Base Aérea.
--:--
Cidade de San Diego, Estado
da Califórnia, Estados Unidos. Fins de 1960.
Balboa Park, local onde se
realizava um congresso interamericano de municípios, do qual participava, como
enviado especial dos “Diários e Emissoras Associadas de São Paulo”.
O noticiário diário da
cobertura dos trabalhos do congresso era por mim transmitido por via aérea.
O Balboa Park fica bastante
distanciado do correio central. Minha locomoção por via de táxi, ida e volta,
iria ficar bastante oneroso em relação às verbas pessoais que dispunha eu na
ocasião.
Decidi recorrer ao transporte
por ônibus. Perguntei a um funcionário do parque, onde tomaria o ônibus e qual
a linha que me levaria ao centro da cidade, na Quarta Avenida.
Ele explicou, mas fê-lo de
maneira complicada para mim e como eu não estivesse entendendo muito bem o
esclarecimento, uma senhora que estava perto, intrometeu-se na conversa. E como
certo custo acabou entendendo o assunto e conhecendo o meu problema.
Sabem o que aconteceu?
Ela prontificou-se a levar-me
ao correio. E o fez. E esperou que procedesse o despacho, trazendo-me de volta.
Todos os dias fazia isso,
espontaneamente, à quisa de colaboração.
Sabem quem era essa senhora?
A esposa do prefeito de San
Diego, que era o presidente nato do congresso.
Podem perguntar ao Dr. José
Cunha de Oliveira, das Indústrias Zillo, que ele testemunhou o fato.
--:--
Na desobrigação da missão
jornalística aquí referida senti que, se ilustrasse com fotos meu trabalho de
cobertura do congresso, o serviço ficaria melhor e mais completo.
Mas não tinha condições de
contratar fotógrafo especialmente para tal.
Na sala de espera do hotel
onde estava hospedado, na Oitava Avenida, principiei a folhear os jornais
locais e analisar os melhores trabalhos informativos sobre o certame.
Escolhi o que me pareceu mais
vibrante, anotei o endereço da redação e rumei para lá.
Subi até o 7º. Andar e fui
falar com o editor-chefe do jornal. Contei-lhe minha dificuldade e o que
desejava. Foi algo difícil para que o mesmo pudesse entender minha pretensão,
em virtude de meu fraco conhecimento da língua inglessa. Por fim entendeu.
Discou o interfone e falou
com outra pessoa. Quando desligou, informou-me que o chefe do departamento
fotográfico me atenderia, no 11º. Andar.
Fui lá.
Fui atendido.
E todas as tardes, um
envelope contendo fotos sobre o congresso, já copiadas invertidas, era colocado
a minha disposição, na própria portaria do hotel em que me hospedava.
Não é um povo bacana?
Extraído do Correio de Marília de 11 de agosto de 1976
Comentários