Seleção de futebol, ainda (22 de junho de 1974)
Contaram-me:
Se Zagalo não tiver um
“júnior” em sua família, isto é, se não tiver um filho com o seu próprio nome,
somente uma pessoa em cima da terra poderá amanhã ser pai e registrar o filho
com o nome de Mário Jorge Lobo Zagalo: só o jogador Paulo Cesar.
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Se o selecionado brasileiro
de futebol sair-se bem hoje contra a seleção do Zaire, além de fazer cortesia
com o chapéu alheio, quer dizer, de classificar-se para as quartas de finais
com o alijamento ou da Escócia, ou Iugoslávia, Zagalo ficará à vontade, para
parodiar a estória daquele distinto, que indo servir o Exército, acabou
galgando a graduação de terceiro sargento.
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A estória é assim:
O homem, que deveria ser
culto, era de fato “curto”. Não na altura, mas nas idéias e nos reflexos.
Mas esses reflexos, por vezes
tinham um inesperado destaque, “vindo à furo”, como acontece com a matéria
purulenta de um tumor.
Na presença e “na cara”, não.
mas à distância, a soldadesca, ao referir-se a esse homem, diria “o sargentão
analfabeto”.
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O sargentão, gostava de
aparecer e era convencido e muito orgulhoso das três divisas que ostentava na
túnica.
Sempre que se apresentava uma
oportunidade para destacar-se, ele a apanhava imediatamente, mesmo sem temer
consequências ou resultados.
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Gostava de impressionar os
recrutas e de basofiar exemplos aos soldados recém-promovidos à graduação de
cabos.
Certa feita, a tropa
exercitava-se em tiro ao alvo.
Um grupo de recrutas estava
tendo como monitor um cabo recém-promovido e foi desse grupo que o sargento
aproximou-se.
Ficou a observar a instrução,
como se fôra um grande general.
Um dos recrutas, utilizando
todo um pente de munição, errou do alvo os cinco cartuchos disparados.
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O sargento viu aí a
oportunidade.
Gritou para o cabo:
- Cabo véio, dá cá esse
fuzil… vou ensinar como se atira…
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Apanhou a arma que lhe foi
entregue imediatamente.
Manobrou o fuzil, fêz
pontaria demorada e atirou. A bala cravou-se à direita da mosca. O sargento não
se descompôs. Olhou para um dos recrutas e disse:
- Viu? Era assim que você
estava atirando…
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Novo tiro. O projétil
fixou-se na parte esquerda. O sargento disse para um outro recruta: “Assim é
que você atira, viu?”
Outros tiros. Todos sem
atingir a mosca e após os disparos, o sargento dirigia-se a um dos praças e
dizia que era assim que o praça estava atirando.
No quinto disparo, a bala
atingiu o alvo. E o sargento, feliz, dirigiu-se ao cabo:
- Tá vendo, cabo véio… é
assim que eu atiro…
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Então, se o Brasil vencer o
Zaire, por uma vantagem de gols que some o mínimo de três e desde que
Iugoslávia e Escócia não empatem por qualquer vantagem, por certo Zagalo
imitará o “sargentão analfabeto” e proclamará depois, que “os dois empates
anteriores faziam parte de seus planos e de sua técnica”. E outras coisas mais.
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“Se acontecer a hipótese
acima e o Brasil partir para as quartas de finais, já que Gerson não está no
gramado, para gritar com os companheiros e mandar o jogo, o que restará a
fazer, é que o time dentro do campo, jogue mesmo o futebol do Brasil,
esquecendo as “técnicas” e os “esquemas” de Zagalo, que, até aqui, só tem feito
o mundo notar e ver, ao contrário de um futebol técnico, objetivo, agressivo e
insinuante, só viu mesmo, um futebol medroso, inseguro e por muitas vezes acovardado.
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