Uma platéia diferente (10 de maio de 1974)
Transcorreu quarta-feira
última o Dia da Vitória. 8 de maio marcou o transcurso o transcurso do 29º. aniversário
do término da II Grande Guerra Mundial, da qual participou o Brasil, com o
envio e participação em combate de mais de 25.000 soldados.
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O evento foi comemorado
cívica e condignamente por todos os estabelecimentos educacionais da cidade.
O presidente da Associação
dos Ex-Combatentes do Brasil, secção de Marília, dr. Flávio Villaça Guimarães,
foi insistentemente procurado por professores e diretores de escolas para
proferir conferências alusivas à efemétide.
Não podendo atender
pessoalmente todos os convites, acabou por designar outros pracinhas para a
realização dessas palestras.
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Coube a este escriba
comparecer no Grupo Escolar e Ginásio Estadual “Geraldo Zamcopé” para falar
sobre o assunto a algumas centenas de
crianças do curso primário.
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Falei, portanto, para uma
platéia diferente. Para garotos e garotas, em maioria absoluta de gentes
humildes. Esse contacto fez-me muito bem e chegou a emocionar-me.
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Jamais supunha de que aquele
exército de crianças buliçosas e cheias de vida, dotadas portanto de ativas
fontes de energia, que exige a natural movimentação e irriquietabilidade,
viesse a permanecer silicioso e atento à uma fala que durou exatamente uma
hora.
Pois aconteceu.
As crianças de pé, no páteo,
acotoveladas mesmo, permaneceram atentas e presas ao assunto focalizado. Senti
o despertar de interesses e de atenções e não notei cansaço e nem aborrecimento
naqueles semblatezinhos felizes.
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Psicologicamente, tentei
nivelar-me à minha platéia, falando como amigo, tentanto utilizar a linguagem
simples, facilmente assimilável para crianças de um curso primário.
Tentei, qual um mestre em
classe, explicar e esclarecer, numa fala franca, fraterna e cordial, assuntos
relacionados com a participação do Brasil na II Grande Guerra Mundial.
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Depois da oração, coloquei-me
ao dispor da petizada, para responder perguntas sobre assuntos relacionados aos
pracinhas brasileiros e à guerra propriamente dita.
Ai, então, completou-se minha
emoção. Inúmeros garotos e garotinhas vieram formular perguntas. O que mais me
impressionou foi a oportunidade dessas indagações, todas de curiosidade e
argúcia, todas cingidas ao assunto. Provando de que o aproveitamento da
palestra havia atingido o nível por mim esperado. Provando, mais, um excelente
índice de aproveitamento daqueles alunos. Mais ainda, atestando o despertar
grandioso para as coisas cívicas e patrióticas. Ainda mais o irrestrito
respeito à disciplina louvável.
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Aquelas crianças entoaram em
conjunto a Canção do Expedicionário, provocando-me grande emoção.
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Ao despedir-me daquela
criançada maravilhosa do GE “Geraldo Zancopé”, senti aquele calor sincero das
almas sem maldade. Os sorrisos leais de uma infância feliz e satisfeita. O
aceno de mãos num estravazamento de satisfação sincera.
Deixei feliz aquele
estabelecimento. Alegre mesmo, porque sai muito convicto de que fiz mais uns
trezentos novos amigos. Amigos dos quais não terei que temer falsidades, porque
constituiram uma platéia diferente, uma platéia da personificação da própria
inocência.
Extraído do Correio de Marília de 10 de abril de 1974
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