Gíria em rádio vai acabar (22 de maio de 1974)



Portaria recente baixada pelo Ministério das Telecomunicações vem fixar proibição terminante, no emprego e utilização de gírias, nas transmissões de rádio e televisão.

A mesma portaria obriga os locutores e narradores a pronunciarem certo os nomes de órgãos oficiais.

Visa a medida sepultar em definitivo erros palmares do vernáculo, que à miúde são cometidos em rádios e tevês, a pretexto de uma falsa “evolução”, “modernismo” e o chamado “prafentex”.

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O Ministro Quandt de Oliveira irá normalizar, através do Dentel, todo o trabalho de radiodifusão e televisão, dentro de um sistema rígido de fiscalização, prevendo-se sansões duras aos órgãos que não cumprirem ou desrespeitarem as referidas determinações ministeriais.

Essa medida vem tornar-se necessária e oportuna.

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Sendo o rádio e a televisão veículos objetivos e diretos de penetração popular, se não poderia mesmo concordar que eles, ao invés de auxiliar o aprimoramento da cultura comum, viessem a proceder exatamente o inverso: perpetuando a incultura popular, por ausência de melhor orientação.

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A medida, certamente, virá também atingir os órgãos de divulgação escrita: jornais e revistas.

Nesses veículos provavelmente será exigida a linguagem pátria, senão castiça, pelo menos correta. Isto é, isenta de linguagem de gírias, consubstanciando termos genéricos, que acabaram por fixar-se no consenso popular, como exatamente compreensíveis, embora jamais constem de dicionários oficiais.

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Jornalistas e radialistas existem que são exagerados no emprego e utilização de gírias, numa deturpação flagrante aos comezinhos princípios do vernáculo nacional.

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Eu próprio tenho empregado, vezes muitas, gírias comuns. Mas gírias fáceis, conhecidas, qe se não chocam e não denigrem os princípios linguísticos  Mas quase sempre tenho me preocupado em grifar, através de aspas, todos os vocábulos estranhos ao próprio vernáculo.

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Por essa razão, algumas pessoas, fãs desse falso “modernismo” e dessa falta “evolução”, não se acanharam por vezes, em tachar de antiquado o linguajar desta coluna, de obsoleto e mesmo de superado.

Vai ficando provado de que os que assim entenderam estavam errados.

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Daí vale dizer que prosseguirei em frente e isto não irá acontecer, com os colunistas “avançados”, “evoluídos”, “modernos” e “prafrentex”.

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A medida do Ministro Quandt de Oliveira, além de boa, de oportuna, é também patriota. Visa ela conjurar um sistema aparentemente normal e corriqueiro, atualmente muito em voga, em que o rádio e a tevê, ao envés de contribuírem para o aperfeiçoamento da cultura popular, força o desprimoramento dessa mesma cultura, com o arrepio do vernáculo pátrio, na utilização de um rosário de gírias, muitas oriundas de cadeias e de “malocas”.

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O próprio Govêrno, empenhado no aprimoramento da cultura, incentivando as atividades do Mobral, promovendo uma sistemática educacional antes já vista no país, criando e ampliando escolas, não poderia mesmo agir de outro modo.

Extraído do Correio de Marília de 22 de maio de 1974

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