Os futriqueiros (02 de abril de 1974)
Partindo da normal premissa
de que toda regra tem sua exceção, não poderia existir exceção, sem regra
originária.
Uma coletividade constitui-se
de muitos conjuntos. No caso dos homens, de grupos, de uma sociedade.
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Em Marília, sua coletividade
reveste-se, por natureza da própria formação demográfica, numa espécie de
semi-cosmopolitismo, se formos buscar originalidade, autenticidades e ainda o
humano espírito de aventureirismo próprio dos homens.
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Como sóe acontecer, numa
coletividade, existe sem mescla, mas com naturalidade indiscutível,
diversificação e divergência de pensar e entender. E de agir.
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Num rebanho de animais
nota-se logo que o boi preto pasta ao lado de outro boi preto.
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Temos em Marília, dentro da
coletividade toda, gentes de sentimentos vis, de mentalidade tacanhas ou
doentias.
São os futriqueiros.
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Sigmund Freud, em seu método
especial do estudo e da exploração da ciência do subconsciente, por certo deveria
ter concluído, de que a pessoa futriqueira é uma irmã siamesa da criatura
sádica.
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E como existem futriqueiros
em Marília?
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Temos entre nós gente
futriqueiras às tantas.
Gente que se delicia, que se
sente bem, que torne pelo insucesso e desgraça dos semelhantes. Que costuma
imitar o macada da fábula, tirando a castanha da chapa quente com a mão do
gato.
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Gente que nada faz, senão
atrapalhar.
Atrapalha tudo: os homens,
suas ações, suas intenções, seu trabalho. Em alguns casos, até administradores.
Temos isso aqui.
Até políticos.
Até funcionários públicos.
Até gente que se considera
importante.
Até “joãos-ninguém”.
Temos.
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Marília não prescinde desses
futriqueiros. Em contrário, deve abominá-los, já que não pode baní-los de seu
seio.
Urge que se trabalhe mais e
se futrique menos.
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Por qualquer
“dá-cá-aquela-palha”, está formado o futrico. Os futriqueiros são como chacais:
aguardando a primeira oportunidade para atacar. E atacam. Parece que em outra
coisa não pensam.
Só em futricar. Em complicar.
Em destruir.
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Se esses futriqueiros
tivessem um ensejo de sentir, ao menos uma vez, uma clarinada de razão e de
consciência, deixariam de ser futriqueiros.
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“Se o velhaco soubesse o
quanto é bom ser honesto, seria honesto, mesmo por velhacaria”.
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