Coisas que não dão para entender (25 de abril de 1974)
O jornal “Diário de São
Paulo” publicou, há poucos dias, informação de que o gás liquefeito subiu em
nosso Estado “apenas 11%”.
Confesso que não sou lá
grande coisa em matemática, mas sei que não há muito um bujão de gás custava
Cr$ 14,60 e hoje está custando “apenas Cr$ 28,00”.
Por mais que procure
esquentar o bestunto, não consigo entender onde é que foi encontrada a cifra
percentual.
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Tem muita gente por estas
Marílias que receberam um aumentozinho de salários, em janeiro de 1973 e estão
aguardando o próximo mês de maio para mais um “achegozinho”.
Tudo vem subindo de preços
nestes últimos tempos, havendo gêneros que elevaram-se com mais rapides do que
um foguete pirotécnico, mas de vez em quando uma tal de Fundação Getúlio Vargas
faz divulgar estatísticas pela imprensa, dizendo que o custo de vida em tal mês
subiu no Brasil “somente 1,3%”.
Cada vez convenço-me mais de que
sou muito “grosso” em matemática, pois não consigo encontrar essa cifra oficial
e nem sou capaz de solucionar essa questão matemática.
Uma coisa eu sei:
Nenhum comerciante ou
supermercado vai querer vender-me as suas mercadorias com “apenas 1,3%” que a
Fundação referida divulgou.
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Vocês viram só o “pulinho”
que deram essas simples e despretenciosas cenourinhas, tuberculo rico em
vitaminas e que os pediatras receitam para a alimentação das crianças?
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O ex-Ministro da Fazenda,
Toninho Delfim Netto, gostava de dar entrevistas para a imprensa, plenas de
otimismo, com relação às finanças nacionais e à vida dos nacionais.
Otimista, afirmava sempre que
o custo de vida estaria para ser estacionado e que o índice inflacionário
oficial, preconizado pelo ex-presidente Médici, seria válido e respeitado.
Também nunca consegui
entender isso.
Mas penso que o ex-Ministro
tinha carradas de razões. Sendo rico e com polpudas verbas de representação
pessoal, pouco sabia quando lhe cobravam os bons hotéis e restaurantes e sendo
solteiro, nunca havia tido a obrigação de tirar dinheiro do bolso, para pagar
armazém, farmácia, aluguel, supermercado, nada.
Pronto: está matada a
charada.
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Outra coisa que não consegui
entender ainda, mas que continuo “fazendo força” para tal:
O dr. Mario Henrique
Simonsen, Ministro da Fazenda substituto do economista Toninho Delfin Netto,
afirmou, não há muito, que “a época dos preços subirem passou”.
Nesse particular, acredito
que os comerciantes são todos analfabetos e nunca leram esta afirmativa.
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Quem guardou as notas fiscais
referentes às compras de livros e cadernos do ano passado e confrontá-las com
as do ano em curso, por certo será capaz de ter algum problema cardiológico.
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Para não fugir a regra, a gasolina
continua sendo o bóde expiatório de todos os aumentos.
Sóbe o preço da gasolina e
derivados de petróleo e lá vem correndo, com a língua de fora, o aumento geral
de tudo o que a criatura humana precisa para comer e viver.
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Tem muitas coisas mais que
não dão para entender…
Extraído do Correio de Marília de 25 de abril de 1974
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