Transmissões parlamentares (22 de março de 1977)
Cogitam alguns políticos
locais do estabelecimento das transmissões radiofônicas das sessões de nosso
Legislativo.
O truncamento de tal estado
de coisas, no ano passado, decorreu da medida imposto pela Polícia Federal, que
se estribou em dispositivo legal.
Sendo assim, subtendende-se
que não será decisão da Câmara e nem da Presidência, que poderá provocar a
volta do referido expediente. Só a Polícia Federal é que poderá revogar sua
própria decisão.
Se engano não houver, quando
da medida em apreço, parece que a Polícia Federal não adotou a providência em
caráter genérico e sim específico.
E a medida atingiu
diretamente cidades-chaves e grandes centros.
Lins, frequentemente citada
por aqui, não é cidade-chave e nem grande centro e não foi atingida pela medida
em tempo hábil.
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As transmissões radiofônicas
dos trabalhos camarários representam uma faca de gumes. Pelo menos em Marília isso
ficou provado.
Se, por um lado, enseja ao
eleitor, a faculdade de acompanhar os trabalhos do candidato que ajudou a
eleger, por outro propicia a proliferação de desemfreada demagogia.
Vimos no passado, por parte
de muitos vereadores, uma verdadeira “psicose de discursar”. E o povo sofreu
com os ouvidos entregues a muitos casos de asneiras, a discursos ocos e alguns
sem nexo, embora tivesse ouvido muitas palestras e defesas de pontos de vista,
sólidos e lúcidos. Infelizmente, estes foram em escala menor.
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O parlamentar consciente e
bem intencionado deve ficar ciente e convicto de que o improviso é muito
traiçoeiro. E, com tal, pode expor ao ridículo ou comprometer um orador.
Em Marília aconteceu isso
seguidas vezes.
Sem contar-se com algumas asneiras
proferidas pelos microfones, como casos em que se discutiram uma carroçada de
coisas e fatos, inclusive citações de exemplos e de previsões negras, quando,
em verdade, a essência da matéria em pauta era bem outra.
Tudo por causa dos microfones
e do fascinio que os mesmos exercem, notadamente nos incautos e muitas vezes
irresponsáveis.
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Os exemplos do passado não
conseguiram ainda recomendar ou garantir a exposição de uma defesa, em favor do
retorno das transmissões camarárias.
E ninguém poderá assegurar
que isso venha a acontecer.
Cinjamos-nos, por exemplo, ao
ocorrido na primeira reunião camarária mariliense deste ano. Se na ocasião os
microfones estivessem abertos, a própria edilidade teria forjado uma imagem
pouco brilhante de suas funções iniciais.
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Porque, em verdade, nem todos
os que usam microfones sabem usá-los devida e convenientemente. Mas que gostam,
isso gostam. Existem algumas pessoas que não comem os microfones porque estes,
além de caros, são intragáveis e ingeríveis.
Em todo caso, devemos
aguardar o pronunciamento da Polícia Federal sobre o assunto.
Porque, em verdade, bom seria
se todos os políticos fossem ponderados, modestos e recatados para falar.
E que, na sua maioria, não
sentissem a atração apaixonante – e como tal incosequente – pelas “latinhas”.
Aí, sim.
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