Falando sobre gasolina… (11 de março de 1977)



O presidente Geisel vem de anunciar a revogação da medida que dispunha sobre o depósito compulsório e restituível, na aquisição de gasolina.

A decisão causou excelente impressão no seio da opinião pública, como uma prova de que o povo havia recebido a medida inicial, com pouca satisfação.

Se, acredita-se, continuar a sistemática da economia do referido combustível, com a não abertura de postos de serviço aos domingos, possivelmente a angustiante crise do petróleo, muito ficará amenisada.

Pelo que se deu a perceber, neste pequeno espaço-tempo de vigência dessa medida de economia de petróleo, reforçada em seus efeitos, pela proibição de velocidades acima de 80 quilômetros horários, a situação melhorou bastante.

Por outro lado, muitos motoristas continuam ainda a desobedecer as determinações superiores e estão sendo multados sem complascência.

O Governo não anunciou ou talvez não se preocupou em saber, o “quantum” de arrecadação extra, advem dessas autuações. Mas se tal vier a ser verificado, constatar-se-á de que a renda é bem grande, embora jamais pudesse alcançar o teto que resultaria do pretendido e já prescrito depósito compulsório.

Em outras palavras, a arrecadação dessas multas por ultrapassagem do “paralelo 38” da velocidade máxima, poderá representar uma excelente contribuição, inclusive para atenuar as dívidas externas.

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Em Sorocaba, está sendo organizado um moviment de colaboração ao próprio país, nesse terreno de economia de gasolina.

Consiste em fazer, que um domingo por mês, nenhum sorocabano ande de carro, gastando gasolina. Todos os veículos permanecerão nas garagens. Para tal, as famílias sorocabanas elaboram seus planos de permanencia em suas casas ou em residências de parentes, locomovendo-se a pé ou de ônibus circulares.

Só os casos especiais, mais precisamente nos setores de saúde, hospitalização e maternidades, é que permitirão a utilização de veículos particulares, sem que isso implique em infração.

O movimento, de início, encontrou uma certa represália popular e serviu inclusive de algumas explorações políticas, mas acabou sendo normalmente interpretado.

Ao mesmo, estão incorporadas as autoridades do município, imprensa e rádio.

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Está existindo um fator que é digno de registro e que diz respeito a esse campo de economia compulsória de gasolina, em virtude de não funcionamento de postos aos domingos.

Tem gente “folgada” – aqui em Marília, sim – que não se preocupa em encher o tanque aos sábados, mesmo sabendo que isso será impossível nos domingos. E o resultado é que acaba ficando em dificuldades, ou colocando terceiros em dificuldades, com cessão ou “empréstimos” do combustível.

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Mas isso não é tudo.

Tem gente que está cansada de saber que nos dias de domingo não se adquire gasolina em lugar nenhum do Brasil. E essa gente aventura-se a realizar viagens distantesm, cujo consumo de gasolina é superior à capacidade dos tanques dos veículos.

Os resultados é que ficam “serrando” gasolina de estranhos, ou ficam parados, aguardando a manhã de segunda-feira, para proceder o abastecimento normal.

Francamente, senão for uma teimosia sem nome, isso representa burrice mesmo.

Extraído do Correio de Marília de 11 de março de 1977

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