Os brutamontes do asfalto (18 de fevereiro de 1977)
O Governo pede e está a
exigir: a velocidade máxima nas rodovias de todo o país é de 80 quilômetros
horários – e nem um tiquinho a mais.
A medida, além de compulsar a
economia do consumo de gasolina, casa-se perfeitamente bem com a providência
necessária de prevenção de diminuição de acidentes automobilísticos, muitos
deles fatais.
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Os policiais rodoviários
estão apelando para que todos se conscientizem da realidade desses apelos.
Nem todos estão obedecendo,
mesmo apesar do mar imenso de multas por infrações, que a polícia rodoviária
está aplicando.
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Para nós, nacionais, tudo o
que é proibido parece exercer um fascinio irresistível de desobediência.
O médico recomenda: “não
beba”. Aí, dá mais vontade de beber.
O patrão pede: “não faça
isso”. Então, a tentativa de contrariar ferroteia e muitos não resistem.
O Governo pede: “não corra a
mais de 80 quilômetros”. Aí é que dá mais vontade de correr, aí é que mais se
desobedece o Governo.
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Tem gente que faz barbaridade
no volante, em termos de velocidade. Para muitos, um carro não é apenas o carro
para o passeio, ou para o trabalho, ou para o simples transporte. Para muitos,
um carro é apenas uma máquina para desenvolver loucas velocidades, em
desrespeito a lei, a ordem, as vidas dos semelhantes e às suas próprias.
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Tem gente que tem carro
pequeno e modesto e até carro velho. Mas tem gente assim, que tem consciência e
responsabilidade e sabe que esses dois deveres, falam as coisas em tom alto,
como devem ser ditas.
Porisso, não correm,
respeitam a lei. Com isso, economizam gasolina colaboram com as autoridades e
preservam as vidas – suas e dos semelhantes.
Mas essas pessoas, nas
estradas, correm risco, não por elas próprias, mas sim em virtude das
imprudências de terceiros.
Esses terceiros são os
brutamontes de asfalto: as jamantonas e os pesados caminhões, que apelam para
as “banguelas” e que conquistam os declives em velocidades espantosas,
ameaçando passar por cima de pequenos veículos.
Com isso, obrigam os pequenos
carros a correr para fugir ao perigo, se os acostamentos não oferecem condições
para dar passagem.
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Os brutamontes do asfalto não
estão nem aí e nem querem saber.
Imprimem velocidades
perigosas nos banguelamentos de descidas, colocando em risco os carros pequenos
que estão obedecendo a lei.
E não há quem os reprima.
Todos sabem que uma carreta,
uma jamanta ou um caminhão carregado e pesado não pode ser freado
repentinamente, especialmente se vir desenvolvendo velocidade superior a 100 e
por vezes até 120 quilômetros.
E se os carrinhos não sairem
para o acostamento ou não meterem o pé na tábua, correm o risco de serem
empastelados e esmagados pelos brutamontes do asfalto.
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Se a polícia rodoviária
quiser, ela “pega” dezenas de brutamontes por dia. É só circular em veículos de
chapa particular, tirando os quépis para despistar. Verá quantas vezes terá que
sair do asfalto ou correr para não ser “empurrado” ou “pisado” pelos
brutamontes.
É fácil constatar.
Muito fácil.
E caçar as habilitações dos reincidentes.
Os abusos e os perigos estão
alí, praticados pelos brutamontes do asfalto.
Mas motoristas de carros de
passeio, também desrespeitam. Apenas que não ameaçam de morte tanto quanto os
brutamontes.
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