Feliz carnaval, leitores! (19 de fevereiro de 1977)
Há muitos anos, palestrava eu
com um sacerdote, que era vigário da Matriz de Santo Antonio local.
No decorrer da palestra
informal, veio à baila assunto relacionado com o carnaval.
A questão fora motivada
porque o então presidente Janio da Silva Quadros havia anunciado sua decisão,
de proibir o uso de lança-perfumes no carnaval, como também coibir a prática de
brigas de galos.
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E, durante esse colóquio,
indaguei do padre, o “por que” da Igreja ser contra o carnaval.
O religioso dissera-me que a
Igreja era em princípio contra o carnaval, no que se referia ao paganismo de
suas práticas, mas isso não significava que era contrária ao direito das criaturas
divertirem-se.
E foi mais além o sacerdote,
dizendo-me mais ou menos isto:
A Igreja não aprova e nem
poderia aprovar os excessos que se costumam cometer, sob o pretexto do
carnaval.
A Igreja faculta, louva e até
colabora para que o povo possa divertir-se, mas uma diversão sadia, sem
maldade, sem exgeros, sem prejuízos para a moral e a dignidade humana, onde o
espírito dos brincalhões seja puro e não de prevenção, não espírito voltado
para o álcool e o sexo, como geralmente se vê e se tem conhecimento, tudo sob o
escudo das folias carnavalescas.
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Dizia-me o padre, que as
brincadeiras sadias são necessárias e úteis para o espírito e para o próprio
corpo.
O lazer é também uma
preocupação da Igreja e para tanto existem centros comunitários, colonias de
férias, espectáculos teatrais, atividades desportivas, etc., que contam com o
patrocínio, supervisão e interesse da Igreja – disse o sacerdote.
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Indaguei na ocasião se
porventura um grupo de marianos, filhas de Maria e representantes de outras
entidades religiosas pretendessem brincar o carnaval, se ele, o padre,
aprovaria.
Veio a resposta: sim,
aprovaria, desde que as brincadeiras fossem sadias, em respeito mútuo, sem
excesso e sem quaisquer abusos.
Fui mais além, indagando do
padre, se, nesse caso, ele estaria disposto a ceder o salão paroquial para que
os integrantes de tais irmandades brincassem o carnaval.
E a resposta do sacerdote:
Desde que o salão não tenha
ligação direta com o prédio da Igreja e desde que me sejam provadas as boas
intenções dos pretendentes, não terei nenhuma dúvida em atender.
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Despedi-me do padre e fiquei
por muito tempo pensando na palestra do mesmo, na sua sinceridade de ponto de
vista.
Eu havia ouvido algo que
antes ignorava e que me havia elucidado uma questão que desejava saber.
Gostei.
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E, como hoje é carnaval,
festa do povo, festa que se tornou tradição entre nós, recordei desse episódio.
Como tal, estou também a
formular votos de um feliz carnaval aos marilienses em geral e aos leitores
desta coluna, em especial.
Que se divirtam todos, com
respeito mútuo, sem exageros, sem excessos.
Afinal, quem trabalha o ano
inteiro, quem dá conta do recado e desempenha a contento as atribuições de suas
responsabilidades, tem o direito de higienizar a mente.
Feliz carnaval, leitores!
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