Hoje, Dia do Farmacêutico (20 de janeiro de 1977)
Dia destes, palestrava eu com
o deputado Doretto Campanari. No trivial da conversa, contei ao oftalmologista,
que em criança tivera eu uma indomita e enorme vontade e vocação pela medicina.
Mas que, tendo sido criado na lavoura, “no cabo da enxada”, esse anelo
tornara-se impossível, acabando por desfalecer.
--:--
Eu não tinha condições de
atinar com a importância da ciência médica propriamente dita. O que, na minha
ingenuidade eu admirava, era o médico em pessoa. Achava-o um ser superior,
inteligente, dotado de uma autoridade impressionante, uma criatura sábia, que
curava gente.
E admirava, então, os dois
médicos que existiam na cidadezinha onde morava.
E sonhava ser médico também.
--:--
Um de meus colegas de grupo
escolar era “protegido” de um médico. O esculápio, que não tinha filhos homens,
propuzera-se a custear os estudos desse meu colega, o Ari. Para que ele se
formasse em medicina, pois o pai, velho sapateiro, não tinha condições de pagar
os estudos.
Eu invejava o Ari.
E quando terminamos o quarto
ano de grupo, o Ari foi para uma cidade grande, sob as expensas do médico,
cursar o ginásio. E completou o curso ginasial, que naquele tempo era de cinco
anos.
O protetor deve ter ficado
decepcionado, pois no final o Ari acabou desistindo de ir estudar medicina em
São Paulo e acabou tornando-se um perito contador.
--:--
Aos poucos e com o passar do
tempo, acabei convencendo-me de que seria impossível eu estudar medicina. E
terminei por aceitar a realidade dos fatos.
Como quem não tem cão caça
com gato – diz o adágio – pensei em trabalhar numa farmácia, pois assim estaria
próximo ao ramo da medicina – pensei.
E, graças à concordância e
interferência de meu pai, me foi conseguido emprego na cidade, para trabalhar
numa farmácia. Trabalhava, comia e dormia e pra mim isso representava a coisa
mais bela e mais rica do mundo.
Essa felicidade dava-me um
alento e um entusiasmo digno de nota e com isso eu lavava vidros o dia todo,
fazia a limpeza do estabelecimento, lavava cálices, bastões, geral, seringas,
aparelhos piruleiros e tudo o mais e me interessava em aprender.
--:--
O João, encarregado do
laboratório, não gostava muito de responder minhas seguidas perguntas sobre
famacopéia. E eu indagava porque queria aprender.
Assim, quando tinha folga,
recorria a um outro moço de outra farmácia, que sendo mais velho do que eu,
forçosamente entendia melhor de farmácia. E esse rapaz, talvez por piedade,
respondia minhas perguntas, ensinava-me outras coisas e até fornecia-me as
fórmulas sobre pomadas e xaropes.
E eu era feliz, como todo
garoto pobre e inocente, que se considera realizado.
--:--
Lembrança esta veio-me à
mente porque hoje é o Dia do Farmacêutico, essa profissão de nível superior,
excelentemente qualificado, que executa tarefas inportantes, que diretamente se
coadunam com a ciência médica e a técnica farmacológica.
Com esse episódio e com este
registro, as homenagens aos honrados farmacêuticos marilienses, neste Dia do
Farmacêutico.
Comentários