Gasolina, o bode expiatório (18 de janeiro de 1977)
Não só o Brasil, mas diversas
outras nações do mundo, encontram-se compulsoriamente submissas aos países
produtores de petróleo, principalmente a Arabia.
Nestes últimos anos, o
consumo interno de gasolina entre nós, quadripicou ou quintuplicou. Além do
vertiginoso índice de produção automobilística nacional, o sistema de
financiamentos destinados a aquisições de veículos, acabou por acarretar
expressiva elevação nas cifras representativas do consumo de petróleo.
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Nestas condições, o petróleo
produzido em território brasileiro e as cotas de importação do referido
produto, acabaram por tornar-se insuficientes e deficientes para o consumo
interno, onde a demanda é maior do que o armazenamento.
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Sem contar-se, ainda, com o
volume gigantesco de divisas nacionais, que se carreiam para o exterior, como
pagamento das aquisições da maior parte do petróleo que se consome no Brasil.
O brasileiro, de modo geral,
consome mais petróleo do que leite!
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A situação vem se agravando
dia a dia, chamando as atenções das próprias autoridades governamentais, o
ponto de passar a exigir uma tomada de posição ou a adoção de providências
enérgicas, no sentido de, senão resolver, pelo menos contornar a crise surgida.
A medida mais drastica que se
poderia cogitar para o caso, seria a do racionamento do produto. O
racionamento, em sí, iria ter reflexos na própria condição economica da
população, pois certamente forçaria suas ações inclusive no gás liquefeito.
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E o governo vem de anunciar,
sob a chancela de “racionalização”, uma apertadela no consenso geral, forçando
a economia do referido produto.
Para isso, instituindo a
obrigatoriedade de um recolhimento à guisa de empréstimo compulsório, para
ressarcimento após 24 meses, sem juros, correção monetária ou vantagens outras.
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Quiçá não seja esta a fórmula
mais prática e objetiva da questão.
Percebe-se que o governo quer
acertar, está interessado na solução do problema, mas quer parecer que a medida
talvez venha a ser modificada, mesmo antes de entrar em vigência.
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O anunciado já principiou a
gerar entre grande parte dos nacionais, uma espécie de psicose coletiva de
aumento do custo de vida.
Os que dependem de condução,
já principiaram a mentalizar e a fixar uma idéia única, de que a gasolina
custara dois cruzeiros a mais.
Isto é, não estão dando
importância ao objetivo da medida em sí e sim, considerando o valor do
empréstimo compulsório, como preço pago a mais em cada litro de combustível.
Isso poderá forçar uma
elevação de custo das utilidades e generos de necessidade premente. E não é
isso o que pretende o governo.
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Esse aspecto, já faz parte
dominante de muitas gentes. E eles, os que assim pensam, não querem saber de
nada. Para eles, a gasolina orçará a casa dos sete cruzeiros, porque em
efetividade, desembolsarão dita importância. E como tal, irão fazer com que se
considere tal como indesviável e partindo desse princípio, forçar o aumento de
tudo, sob o pretexto da alta da gasolina, que, até aqui, tem sido o bode
expiatório de muitas explorações da economia popular.
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