Coisas de gasolina (27 de janeiro de 1977)
A racionalização (acho
esquisito o termo para o fim aplicado) de gasolina pelo menos já trouxe no
mínimo três vantagens: forçou a economia, por um lado. Diminuiu o trânsito
intenso, por outro. E desafogou bastante a balburdia de veículos no centro da
cidade.
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Coisa que não dá bem para
entender é a “racionalização” da gasolina, num páreo estranho com os preços dos
veículos, cujas cotações continuam subindo.
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Gente precisa tirar da cabeça
a idéia fixa de que, com o depósito compulsório de dois cruzeiros por litro, o
preço da gasolina será de sete pratas.
Isto está gerando uma espécie
de psicose coletiva e da idéia geral, poderá redundar em detrimento da
população ou mais diretamente, da economia popular.
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É que já se cogita em subir
tudo, sob o pretexto de que a gasolina “custa sete cruzeiros”.
É um jogo ruim.
Que inclusive deverá
despertar e merecer atenções de quem de direito.
Por outro lad, tem gente
satisfeita, pois tudo o que se relaciona ou se refere com aumentos de preços de
produtos de petróleo, lhes dá margem a aumentar, a subir, a cobrar o que bem se
puder entender ou der no bestunto.
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Governo não está disposto a
isentar os taxis do recolhimento compulsório da taxa de dois cruzeiros. Mas
anúncia que pretrende estudar uma fórmula, no sentido de não prejudicar os
motoristas, que têm nos taxis seu ganha-pães.
Outro negócio melindroso,
pois a corda arrebentando do lado dos passageiros, estes irão evitar ao máximo
o uso de tais tipos de transportes. Em palavras outras, isso quer dizer que as
receitas dos profissionais dos autos de aluguel poderá diminuir ainda mais.
Caso para pensar.
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A única desvantagem que a “racionalização”
de gasolina trouxe, esta refere-se ao turismo. Logo agora, quando os governos
se empenham em fomentar o turismo entre nós, a medida se torna necessária.
Com a gasolina por preço
assim, acrescido do depósito compulsório, não dá ânimo para ninguém fazer
turismo.
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A esperança que existe a
respeito é a aprovação cem por cento, dos motores de automóveis adaptados para
o suo de álcool de cereal – no caso, álcool de mandioca.
Mandioca é produto de fácil
custeio e trato, que nasce em qualquer cerrado. E cerrados é o que não faltam
no Brasil – especialmente na parte centro-oeste.
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Resta saber se depois disso
não será facultado o enriquecimento fácil e violento, das empresas
“adaptadoras” de motores ou dos grandes plantadores de mandioca, ou
destiladores do álcool desta.
Como se sabe, o nacional é
assim mesmo. Gosta de tirar as suas casquinhas e nesse particular imita a
cascável: é só dar molesa e ela dá logo o bóte.
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De qualquer maneira, o lado
que encanta tudo isso é o espírito de esportividade do brasileiro. Acha jeito
de tirar uma piadinha em tudo, de motivar uma alegria em tudo.
Assim, é só a gente ver nas
ruas da cidade pessoa que sempre andou de condução para “tirar o sarro” de
leve:
- Economizando gasolina, hein?
Extraído do Correio de Marília de 27 de janeiro de
1977
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