Viagem aos Pampas (V) (5 de dezembro de 1973)
Enquanto permanecia
observando os nomes das placas dos caminhões, um gaucho de mim aproximou-se.
Mediu-me dos pés à cabeça e perguntou, apontando para um “mercedão”
estacionado, com placa de uma cidade de Santa Catarina: “É teu este aí?”.
Respondi que não, que o “meu”
éra outro, apontando para o Scânia com placa de Marília. O gaucho encarou-me
novamente e voltou a indagar: “Mas não (é) o teu este?”, reapontando o “mercedão”. Neguei novamente.
E o homem, visivelmente
“bronqueado”, apontou para um letreiro na longarina trazeira do “Mercedes”,
esbravejando: - “Isto é coisa que se escreve?”.
Foi aí que observei o
letreiro e tive que fazer força para não rir. Na trazeira do caminhão
catarinense, estava escrita a seguinte “gozação” aos gauchos: “Abre teu ôlho,
tchê”.
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Às 6 horas passávamos por
Joinville, cidade de 125 mil habitantes, 500 indústrias e milhares de
bicicletas. A predominância da imigração alemã nota-se logo. As residências, em
maioria, apresentam em seu aspecto arquitetônico, fachadas e coberturas típicas
da secular engenharia alemã. A população, em maioria também, apresenta a tez
alourada em geral. O sotaque de pronúncia, difere igualmente, do pessoal aqui
de São Paulo e mesmo do norte paranaense.
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Embora não adentrando, deu
para observar-se as alvas praias do Belneário de Camboriú, um dos pontos
turísticos mais famosos de Santa Catarina. Mar verde, relativamente calmo.
Hotéis e colonias de férias, muito trânsito, banhistas nas praias “desligados”
de seus afazeres. Praia bonita, lembrando Guarujá.
Os catarinenses orgulham-se
muito desse Balneário, que atrai gentes de todas as partes do Brasil, da
Argentina e do Uruguai.
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Às 9 horas, passamos pela
Capital catarinense Florianópolis. Nas imediações de Florianópolis, o veículo
teve que parar forçosamente. Antes do sinal de “parada obrigatória”,
percebia-se um movimento diferente à margem da rodovia e quando nos aproximamos
é que vio, várias dezenas de soldados do Exército, trajados à paisana,
empunhando metralhadoras. Além de asfalto, ocultos nas plantações e vegetações,
lobriguei barracas militares e jipes do Exército.
Um praça, com uma
metralhadora “Ina” na mão, pediu para serem abertas as duas portas do veículo,
exigindo documento de identidade. Imediatamente, exibi uma cédula. O militar
apanhou, olhou bem para a fóto, encarou-me, devolvendo a cédula e (talvez sem
querer, fez uma continência) não examinou o documento do motorista,
determinando o seguimento da viagem.
Clóvis ficou admirado do
militar ter visto apenas meu documento, dispensando o dele e ter feito
continência.
Expliquei ao motorista qu eu
havia usado de psicologia: ao envés de exibir a cédula de identidade da polícia
civil, exibi a “marca d’água” do Exército que me identifica segundo sargento da
reserva.
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Em algumas paradas
posteriores, tentei obter informações da razão daquele movimento de revista.
Não consegui ficar sabendo as razões. De início, supuz a viabilidade de algum
movimento subversivo ou algum roubo à banco. Mas nada fiquei sabendo.
(continua)
Extraído do Correio de Marília de 5 de dezembro de
1973
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