Viagem aos Pampas (II) (30 de novembro de 1973)
Quinta feira fora o dia
designado para o inicio da viagem. Não fôra escolha e sim decorrência da
necessidade e interesse da própria firma. Era o 15 de novembro, data consagrada
à proclamação da República.
Como convencionado fôra na
véspera, deveria encontrar-me, antes das cinco horas da manhã, ali na Avenida,
defronte o Bar Marrocos.
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Com uma pontualidade
britânica, Clóvis apareceu com seu possante veiculo. Sem demora, deu-se a
partida.
Detive-me a admirar o
interior do Scânia, pois antes eu jamais havia adentrado uma cabine de tal
caminhão. Um banco destinado ao ajudante, uma cama dotada de colchão de espuma,
bastante espaço e uma visão ampla, tanto para quem dirige, como para quem
viaja.
O painel e seus apetrechos,
divergem dos caminhões comuns e especialmente os mais antigos e por mim
conhecidos: chave geral, botão de partida, velocímetro, marca de temperatura
para movimento e funcionamento com o veiculo parado, freios de mão divergentes,
para o “cavalo” e a carreta, freios de pedal em conjugação simultânea e o
cambio discriminando em quadro próprio, as 10 marchas de avanço e a de ré.
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A claridade do dia
principiava a dar o ar de sua presença, quando possante Scânia devorava o
tapete negro da rodovia Marília-Assis, nas proximidades de Echaporã.
Pulso firme no volante, o
motorista conversava ou respondia as perguntas, sem o mínimo desvio de suas
atenções ao serviço. Como motorista também, pude perceber, logo de inicio, a
pericia e os reflexos positivos do profissional, o que acarretou-me a certeza
da sensação de segurança, para o transcurso da longa viagem.
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Nossa primeira parada, deu-se
num posto de serviço, na rodovia que demanda ao Estado do Paraná, além da
cidade de Assis. Ali Clóvis apanhou um martelo de madeira, para conferir a
pressão dos 18 pneus do possante caminhão-carreta.
Para curiosidade: a carreta
sustentada por 12 pneus, tem o comprimento de 12,5 metros. O “cavalo”, que é o
caminhão propriamente dito (sem carroceria), possui 6 gigantescos pneumáticos.
Entre a testa da carreta e o “cavalo”, há uma distancia de uns dois metros e da
frente do capot do motor até o final da cabine, deverá haver uma outra
distância, uns três metros. Isto significa que o caminhão todo apresenta um
comprimento de uns 18 metros.
Ali naquele posto, um rápido
cafezinho e o reinicio da jornada.
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Tudo já estava claro. Estrada
plana, com pastagens laterais e terras preparadas para o plantio de cereais,
possivelmente soja. A terra, apresentando-se avermelhada, denunciando a
vizinhança do Paraná.
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Alcançamos e cruzamos o Rio
Paranapanema adentrando o Estado do Paraná. Já tudo claro, com o sol
despontado. O motorista estacionou ao chegar a uma rudimentar porteira de
limite, para exibir ao fisco, as notas fiscais da carga transportada. A
fiscalização paranaense tem uma exigência que nenhum Estado do Brasil tem:
cobra taxa tributária extra, por todas as mercadorias que entram ou saem do Estado,
denominada “classificação”.
Observei, com certa espécie,
que os fiscais recebem uma pequena importância, para apor o carimbo do posto,
nas notas fiscais que acompanharam as mercadorias. Como repórter curioso que é
por excelência, não entendi a razão desse pagamento, por ignorar que o Estado
receba do contribuinte qualquer dinheiro, sem guias ou recibos, ou sem
justificar o pagamento...
(continua)
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