Uma utopia oficial (17 de novembro de 1973)



O vereador emedebista da Câmara Municipal de São Paulo, Sr. Horácio Ortiz, conseguiu que a edilidade bandeirante aprovasse uma moção assinada pelas “Mães da Periferia” da Capital paulista.

E mais ainda, que a referida moção fosse (como deve ter sido) enviada ao Presidente Médici, ao Congresso Nacional e ao Governador Laudo Natel e ao prefeito da paulicéia, Miguel Colasuonno.

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“Para onde vão a carne, o feijão e o leite?” – perguntaram as “Mães da Periferia”.

O memorial, devidamente firmado, revela a angustia dessas mães de família, ante o brutal e incontrolável aumento do custo de vida. Exterioriza o terror da fome, a dificuldade da própria subsistência.

As signatárias acusam a contradição entre a “riquesa do Brasil” e os pouquinhos recursos, disponíveis para alimentação mínima dos brasileiros pobres e assalariados, afirmando que “o feijão e o arroz eram a comida dos pobres, mas agora os pobres não podem comer mais”.

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As autoras da moção fizeram inclusive uma pesquisa com base a doze meses seguidos, ou seja, de outubro de 72, a outubro de 73, conseguindo provar que o custo de vida em São Paulo, nesse ano de decurso atingiu o absurdo aumento de 120%.

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E a gente, mesmo aqui no interior, especialmente a assalariada, que sente também o problema nas próprias carnes, é levada a acreditar na pesquisa percentual das “Mães da Periferia”, mesmo com a Organização Getúlio Vargas divulgando dados estatísticos de que o custo de vida sobre a mixaria de 1,2% ao mês.

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As estatísticas referentes à alta do custo de vida que até aqui foram divulgadas oficialmente pelo citado organismo são utópicas. Oficialmente utópicas e até lamentávelmente desacreditadas.

Vou transcrever a seguir os dados e números que as “Mães da Periferia” comprovaram e que atestam que de outubro do ano passado ao (mesmo) mês do ano em curso, o custo de vida subiu 120% - apesar da preconização e do apelo do honrado Presidente Médici e a despeito das fajutas estatísticas do OGV.

Vejam os leitores.

Depois, concluam

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Produto     outubro     outubro     porcentagem
                   de 72       de 73        de aumento

Feijão        2,30           6,70           191%
Arroz         1,25           2,40             92%
Carne         7,00           15,00         114%
Açúcar       0,85           1,25             47%
Ovos          1,60           3,80           137%
Café           4,50           8,40              86%
Leite          0,75           1,50           100%
Macarrão   1,26           3,30           161%
Pão            0,60           0,90             50%
Farinha      1,20           2,10             75%
Margarina 1,10            1,90             72%
Óleo          2,60           4,00             53%
Sabão        0,40           0,84           110%
Tomate      0,75           3,57           376%
Gaz           13,80        17,00             23%
Batata        0,85           2,90           241%
Queijo       5,36         12,00           123%

Total de aumento: 120 por cento.

Extraído do Correio de Marília de 17 de novembro de 1973

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