Pobre burro velho (9 de novembro de 1973)
Era uma vez...
Um caboclo, com seu aspecto
simples, seu jeito simples de todo caboclo.
Por uma estrada carroçável,
conduzia, puxado pelo cabo de um cabresto, um burro velho.
Dois cabeludos da cidade,
munidos de espingardas, divertiam-se à beira da estrada, caçando pardais e
anúns.
Quando o caboclo
aproximava-se dos dois “moços da cidade”, tirou respeitosamente o chapéu,
pronunciando seu sincero “tardi” aos rapazes.
Um deles, querendo dar vazão
ao seu “espírito” de frustado “gozador”, entendeu de fazer graça para o outro,
“mexendo” com o caboclo. E, dirigindo-se ao homem da roça, assim falou:
- Ei! Onde é que vão vocês
dois?
O caboclo parou, olhou para o
engraçadinho, deu uma cuspidela de lado e respondeu:
- Tô indo cortá capim prá
nóis quatro.
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Estamos nos aproximando do
próximo pleito eleitoral, que deverá eleger os futuros deputados federais e
estaduais.
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O caboclo da história, pôr
certo dirigia-se para cortar capim para o burro velho. Mas, na resposta à
“gozação” de um dos rapazes, não teve pejo em auto-classificar-se de burro
também, uma vez que igualmente assim considerou-se os “moços da cidade”.
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Aqui, a oportunidade, de um
grosseiro paralelo comparativo:
O burro velho, Marília.
O caboclo simples, o eleitor
consciente da cidade.
O capim, os votos eleitorais.
Os dois moços, os candidatos
alienígenas.
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O caboclo seguiu o seu
caminho.
Os dois pretensos
“caçadores”, ficaram algo chocados, mas acabaram rindo, achando graça.
O caboclo havia dito uma
grande verdade. Isso eles não deixaram de conscientemente reconhecer.
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O capim deveria ser cortado,
apenas para o burro velho.
O caboclo tinha somente esse
interesse.
As coisas não iriam, dali
para diante, acontecer conforme desejava o caboclo simples.
O capim não seria alimento só
para o burro velho. O caboclo simples convencera-se disso.
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Muita gente vai comer o capim
cortado pelo caboclo simples. Capim que deveria ser exclusivamente para o burro
velho.
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Assim vai ser o resultado das
próximas eleições.
Um ról imenso de votos dos
marilienses, os caboclos simples, irá ser dividido. Em verdade, o coeficiente
total da votação, terá três destinos distintos:
1. Parte aos candidatos locais.
2. Parte aos candidatos forasteiros.
3. Parte em branco, sem valor.
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E repetir-se-á a história:
Marília continuará órfã e
desamparada na Assembléia Legislativa.
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O capim que à primeira vista
não parecia, tem um volume maior do que se julgava ter.
O caboclo simples,
auto-considerando-se burro velho, vai acabar comendo apenas uma pequenina
parte.
A parte maior das gramíneas e
ciperáceas adrede e caprichadamente cortadas, vai ser devorada, com avidez e
voracidade, pelos dois “moços da cidade”.
Pobre burro velho!
Desgraçado caboclo simples.
Extraído do Correio de Marília de 9 de novembro de
1973
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