Daltonismo político (14 de novembro de 1973)



Daltonismo é uma deficiência visual, que impede seu portador, de distinguir com certeza e facilidade, as diversas tonalidades de cores.

O cidadão daltônico, por circunstância óbvia, não pode “tirar” carta de habilitação como motorista, pois que, incapaz é de distinguir o verde, o vermelho e o alaranjado de um semáforo.

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Conheço um mariliense, que nunca revelara sua condição de daltônico e que mesmo os que com ele convivem, ignoravam tal circunstância.

Certa feita, observando o mesmo praticar o jogo de bochas, convenci-me dessa anomalia. Foi quando, no inicio do jogo, o adversário recolheu e separou “suas” bolas. Observei que ele prestava a atenção, onde paravam as dele, “marcando” mentalmente os locais. Quando acontecia do mesmo distrair-se e o jogo mudar o local das bochas, o mesmo ficava sem saber quais as dele, entre as vermelhas e verdes.

Perguntei-lhe e o mesmo confessou. Quis saber se não conseguia distinguir nenhuma cor e a resposta foi que não, que eram todas quase semelhantes e que só nos casos de grande contraste, como um vermelho forte e um branco bem alvo, ele percebia uma pequenina diferença, desde que prestasse bastante atenção.

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Paralelamente e à grosso modo, Marília está vivendo um lamentável daltonismo político.

Nossos lideres políticos não conseguem distinguir as cores da realidade atual, apesar da diversificação de suas tonalidades.

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Refiro-me ao próximo pleito eleitoral.

As eleições que irão determinar os candidatos que se vitoriarão nas urnas.

Como as bolas de bocha, eles terão cores variadas.

Mas o daltonismo político reinante irá impedir que se determine as cores exatas e as bolas certas.

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Um candidato único de Marília, representa uma cor.

Dois candidatos locais, significam outras tonalidades.

Três candidatos da cidade, traduzem-se em outros tipos de coloridos.

Os inúmeros candidatos alienígenas, representam também cores diversas.

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Ai, então, vai ser gerado a confusão:

A inobservância dos partidos políticos, quanto a necessidade imprescindível e inadiável de um candidato único.

O fatiamento da destinação de sufrágios, entre mais de um candidato.

A distribuição de votação, entre os candidatos de fora.

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E o resultado final, dessa confusão daltônica, politicamente falando, vai constituir-se, nada mais, nada menos, na repetição dos fatos já experimentados: a continuidade da orfandade política de Marília, no Palácio 9 de Julho.

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Com mais de um candidato local, mui dificilmente o eleitorado conseguirá carrear em torno de um nome, o coeficiente mínimo de 25.000 votos. E sem essa sifra, mais difícil ainda, será a garantia e a certeza da eleição de um nosso representante na Assembleia Estadual.

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Quantos mais candidatos locais existirem, maior será a confusão daltônica, pois melhormente serão beneficiados os candidatos de outras plagas.

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Tomara que eu esteja enganado.

Todavia, creio que não.

O porvir irá dizer.

Como já provou no pretérito.

Extraído do Correio de Marília de 14 de novembro de 1973

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