Amanhã, Finados (1 de novembro de 1973)
Amanhã será o Dia de Finados.
Data em que os homens
dedicam-se ao culto dos mortos queridos.
Nos campos santos,
encontram-se a saudade e o respeito.
Sepulturas lavam-se, com
recentes e sentidas lágrimas.
Flores falam a língua da
nostalgia. Parecem espelhar olhares ressequidos e cansados pela saudade.
O brilho da saudade dos que
já não vêm, substitui-se pelas chamas bruxuleantes das velas, que aos poucos
vão se consumindo.
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Doces e saudosas recordações,
contrastam com o amor da ausência dos que nas campas repousas.
Há uma união de suspiros e
preces. O silencio traduz a fala de sonhos desfeitos, relembrando ilusões
anteriormente vividas.
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Os corações de pedra, aqueles
que são céticos, os homens duros de consciência, não escapam à realidade dos
fatos: curvam-se também, participam mesmo que assim não o desejem, da comunhão
geral e comum. E cultuam, igualmente, a memória daqueles que partiram um dia.
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É a dor. Dor que se irradia.
Que fala até mais alto do que o evangélico preceito: “Deixai que os mortos
enterrem seus mortos”.
Ninguém está morto no Dia de
Finados.
A saudade, a nostalgia e o
respeito, fazem o milagre da ressuscitação. Fazem ressuscitar, em nossos
interiores, a lembrança daqueles que partiram e que esperam por todos nós.
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É hora de pensar: o Juízo
particular é quem decide sobre a sorte da própria alma na eternidade ou será
destinada aos céus, ou ouvirá a sentença
terrível da morte eterna.
É o próprio Cristo, quem já
falou dos pecados. Pecados que não serão perdoados, nem aqui e nem no outro
mundo.
É o Finados, dia de
meditação, exatamente naquilo que poucos meditam: na transitoriedade da vida.
Data de recordar a lembrança
e as figuras dos que se foram.
Só assim se poderá, bem e
melhor, pautar as próprias existências, num “curriculum” de ações mais
caritativas, mais humanas, mais elevadas, e, o que é imprescindível, mais
cristãs.
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O cheiro das velas,
mistura-se com o odor imaculado dos ciprestes. As rosas sobre as campas,
mostram-se tristes.
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Esperar o perdão, é apenas um
momento.
Encontrar a gloria eterna é
bem outra coisa.
A dor sofrida por pais,
irmãos, parentes e amigos, não pode e não deve ser limitada à simples
manifestações exteriores.
Oremos, pois.
Orando, poderemos transformar
a dor e a saudade, naquilo que reclama e está a exigir a data do Finados:
penitência e caridade.
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