Um jornal que precisa ser (9 de outubro de 1973)
José Arnaldo e o bilhete escrito para o "mano Alcindo" em 23/3/1945
Já exteriorizei aqui,
analogicamente, idêntico pensamento. A repartição, além de não apresentar
nenhuma contra-indicação, vem alinhavar justificada necessidade.
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Preciso inventar um novo tipo
de jornal. Uma coisa inexistente, “sui generis”.
Um jornal diferente. Bem
diferente.
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Um jornal impresso em
delicadas tonalidades de matrizes. Todo perfumado, apresentando em envólucro de
finíssimo plástico, delicadamente amarrado por fitinhas brilhantes das cores
rosa e azul.
Um mimo, uma jóia.
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Deferirá dos jornais comuns,
esses jornais que não tem medo de noticiar os fatos e que dissecam a verdade,
dando nome aos bois.
Vai ser diverso dos jornais
comuns, essas folhas que apontam erros e indicam soluções, que esclarecem, que
noticiam, que informam, que louvam e criticam, quando o fator necessidade diz
presente.
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O jornal que vou inventar,
vai ser diferente.
Vai elogiar, louvar, jogar
confétis, borrifar água de melissa em todo mundo. Vai omitir e silenciar sobre
os crimes contra a sociedade e a família, que são puras bobagens.
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Vai empavonar os políticos
profissionais e matreiros, porque estes precisam de um jornal assim.
Vai dizer amem e dobras as
espinhas, temeroso de todos os “arrotos de autoridades”.
Vai enaltecer funções e
cargos, porque os outros jornais não se preocupam com isto fazer.
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Vai ser um jornal diferente.
Vai “provar” aos seus
leitores, que a vida é boa em todos os sentidos, que a sistemática informativa
da Fundação Getúlio Vargas está certa e que o custo de vida sempre subiu uma
ninharia de 1,2%.
Vai provar que todos os
políticos são bem intencionados e que trabalham pelo povo, ao contrário dos
outros jornais que criticam esses mesmos maus políticos.
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Esse jornal não vai noticiar
fatos infautos, nem preocupar-se com a prostituição moral, como fazem os outros
jornais. Essas coisas desagradáveis e abjetas, não comportarão no jornal que
precisa ser inventado.
O jornal que precisa ser
inventado, só irá trazer coisas agradáveis, elegantes notícias sociais,
destaques inimitáveis para os políticos matreiros e tiriricas, coisas boas, com
um noticiário açucarado.
Não irá se nivelar, ao
noticiário comum dos outros jornais, porque os outros preocupam-se com a
verdade, com os fatos, com os leitores, com a integridade dos cidadãos,
combatem os erros, escarnecendo dos maus feitos e criticando seus autores.
O jornal que precisa ser
inventado, jamais fará isso. Nunca!
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O jornal que precisa ser
inventado, vai ter ainda uma outra utilidade inestimável: ninguém mais vai
precisar de carteira de identidade, de diploma universitário, de nada. Basta
exibir o jornal que precisa ser inventado, com o destaque de seus nomes
honrosos e honrados e ficará mais importante do que o distinto que possuir Passaporte
Diplomático, ou Cheque-Ouro do Banco do Brasil ou Cartão-Elo, ou
Cartão-Bradesco.
Muito mais importante!
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