Na fabulação dos mendigos, a ignorância do vernáculo (30 de setembro de 1973)
Verdade é que não sou
professor da língua portuguesa, o que não peja de confessá-lo.
Igualmente é verdade, nenhuma
pretensão tenho, de transformar-me em exegeta.
Reconheço que o vernáculo
pátrio é assaz difícil, castiçamente falando.
Mas me não é dado ignorar,
que um têrmo banalíssimo, comum, diariamente multi-utilizado, que a gente ouve
dizer e sabe o que representa, mesmo antes de ingressar na escola primária,
continue a ser escrito e pronunciado erradamente, principalmente por alguns
vereadores, lídimos representantes do povo.
FABULAÇÃO DOS MENDIGOS
O assunto “mendigos”, já
tomou área de uma fabulação, parecendo assunto obrigatório de nossa edilidade.
A realidade, muito clara,
meridianamente clara, todos a conhecem e todos – o que é importante – sabem
onde estão encaixadas todas as peças, originárias e geradoras da verdade dos
fatos.
A caturrice não mais encontra guarida no consenso geral, embora continue a ser cultivada em terreno árido e isento do conciliamento da própria razão.
Está a representar um
arroz-doce enjoativo.
IGNORÂNCIA DO VERNÁCULO
Embora muita gente assim o
pronuncie, aprende-se no grupo escolar, que o têrmo “mendigo” é mendigo e não
mendingo.
Vereadores dizem, em pomposos
discursos, da tribuna da Câmara, ao referir-se à palavra “mendigo”, enfatizando
“mendingo”.
Há quem, ao referir-se ao
vocábulo “mendigo”, pronunciou, várias vezes seguidas, a palavra “mêndigo” (com
acento circunflexo no “e”).
Mas a maioria, não diz
“mendigo”. Diz, “mendingo” (com um “n” entre a vogal “i” e a consoante “g”).
Se se tratasse de uma palavra
de pouco uso, ou de difícil interpretação, ou pouco conhecida, ainda seria
perdoável o erro.
Mas trata-se de um têrmo
banalíssimo, que causa espécie a sua pronúncia errada, avariada e deturpada.
Especialmente por vereadores municipais.
“Mêndigo” e “mendingo” são
palavras que não existem em nenhum dicionário da língua portuguesa.
PROFESSORES
O presidente da Câmara, meu
particular amigo Luiz Rossi, é professor. Igualmente o vereador Nadyr de
Campos, é mestre do ensino e quase advogado.
Eles devem ficar
enrubescidos, por certo, com essa comezinha ignorância do vernáculo pátrio.
O QUE REPRESENTA
O certo mesmo, é que os
vereadores errando, não dizem o que pretendem. Ou porque não sabem, ou porque
não querem.
Vou explicar de uma vez, o
que esse “tema” representa:
Nem “mêndigos”, nem
“mendingos” e nem mendigos: vadios, atrevidos e pinguços.
É isso, só isso.
Extraído do Correio de Marília de 30 de setembro de 1973
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