Um problema cruciante (5 de fevereiro de 1960)



Por certo, muitos leitores deverão recordar que no passado, mais do que uma vez, dissemos através desta coluna, que somos partidário de tudo o que diga respeito a escolas, inclusive as escolas de samba.

E somos mesmo.

Sempre que o ensejo se nos dá vasa, gostamos de focalizar alguma coisa com respeito ao problema escolar, no Brasil tão desgraçadamente mal cumprido ou incompleto, deficiente em alguns pontos, espezinhado em outros, mercadejado em outros.

O ensino no Brasil, queiram ou não os mestres e os entendidos e “estudiosos” na questão, continua a ser um autentico “calcanhar de Aquiles”. Continua a ser uma barafunda, um problema insolúvel, difícil, um verdadeiro “bicho de séte cabeças”. Na zona rural, além de deficientes, distantes, mal localizadas, mal distribuídas, as classes dos cursos primários, são incompletas, pois não apresentam nem os quartos e nem os quintos anos. Nas zonas urbanas, mesmo nas grandes cidades e nas grandes Capitais, o vergonhoso problema das faltas de vagas, arrasta-se ano após ano, vergonhosamente, insoluvelmente, para desespero dos pais de família e para a própria desgraça do país.

Neste período de inscrições de alunos, para o curso primário, bem entendido (pois não focalizamos aqui o estudo intermediário), estamos vendo a repetição dos mesmos fatos passados, acrescidos do natural índice elevatório, sem que os governos tenham conseguido encontrar uma solução, apesar de que esta mesma solução é, sobre todos os modos, realmente facílima.

Citemos, por exemplo, apenas o caso de São Paulo, a Capital do Estado líder da Federação. Para ilustração do cruciante problema, tão somente, onde, no ano de 1959, cêrca de 60 mil crianças, em idades compreendidas entre 7 e 12 anos ficaram sem matriculas nos diversos cursos primários na Capital. Essa estrondosa cifra deverá ter aumentado no ano em curso, especialmente nos dias presentes.

No ano passado, existiam no Brasil (notem bem, no Brasil!) 168.376 classes primárias, de conformidade com o que asseverava o Anuário Estatístico. Tal número de classes acolheram 5 milhões e 700 mil estudantes, enquanto o número exato de crianças em condições de estudos, foi, conforme as estatísticas, de 9 milhões. Assim, cêrca de 3 milhões e 300 mil crianças não puderam iniciar ou prosseguir seus estudos no Brasil, no ano passado, por falta de classes! Esse número é lógico, deve ter crescido bastante no ano em curso.

Por aí, verificarão os leitores, que o problema é grave, gravíssimo, que desafia a argúcia, a capacidade, as intenções e as promessas politicas de diversos candidatos nas épocas pré-eleitorais.

Isso nos ocorreu exatamente na circunstancia atual, em que Marília, face a interdição do 2º Grupo Escolar, terá que deslocar seus alunos para outros pontos. Fácil a solução, não é verdade?

Extraído do Correio de Marília de 5 de fevereiro de 1960

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