Feliz carnaval, leitores (27 de fevereiro de 1960)



Oficiosamente, inicia-se hoje (27/2/1960) o período carnavalesco de 1960. Começa portanto neste sábado, o tríduo carnavalesco. Tríduo de quatro dias.

Que se divirtam todos, como podem e como devem. De maneira respeitosa e sensata, sem os exageros que algumas pessoas procuram lançar mão, sob pretextos de carnaval. Somos, de nossa parte, favoráveis aos folguedos carnavalescos (embora não gostemos de “pular”), porque entendemos que o público tem o direito de divertir-se de quando em vez, principalmente o público brasileiro, eternamente sacrificado com a própria vida tão difícil de nossos tempos. O que não aplaudimos, isso sim, são os excessos, as bebedeiras inúteis, os “rolos” que aprontam alguns maleducados e irresponsáveis. Não pactuamos com o desrespeito, justificado insensatamente como sendo seus próprios das festas momescas.

Nos últimos tempos desapareceram praticamente o carnaval de rua. Passou a imperar apenas nos salões fechados, ou de já não transcorre com o mesmo típico brilho, em virtude de acentuada ausência de ricas fantasias, confétis, lança-perfumes e serpentinas. Para que tal se complete, verdade seja dita, há que se dispor de muito dinheiro, face aos preços exagerados de tudo hoje em dia; e acontece que o “alumínio” não anda “dando sopa” assim facilmente.

Nas ruas, de alguns anos para cá, o carnaval passou a inexistir. Os “corsos” completos, com incontáveis carros alegóricos, “ranchos”, cordões e préstitos desapareceram. Habitualmente, vem-se apenas desfiles de carros, repletos em maioria por crianças e multidões imensas plantadas ao longo da Avenida, procurando ver, exatamente aquilo que não existe: o carnaval de rua.

No ano em curso, ou mais precisamente, no carnaval que hoje terá início, pronuncia-se a repetição de fatos idênticos; maximé tendo-se em conta de que a cidade em si, a exemplo dos anos anteriores, não apresenta em suas ruas quaisquer motivos alegóricos aos folguedos de Mômo, para agradar um pouquinho que seja as vistas dos pobres, e, particularmente, daqueles que não frequentarão os clubes diversos.

De qualquer maneira, o povo gosta de carnaval, por índole e tradição. Carnaval é produto genuinamente nacional. Pelo menos o nosso, que difere de todos os carnavais do mundo, mesmo do famoso carnaval italiano desenvolvido em Viareggio ou do Francês desenrolado em Nice. Que se divirta o povo, espraiando o espirito causado das lides da vida. Mas que saiba divertir-se sem conspurcar o verdadeiro sentido e o real significado dos folguedos.

Esses são os nossos votos, para todos os marilienses, para todos os foliões.

Simultaneamente, formulamos também desejos de que os folguedos momescos em nossa cidade, em repetição aos anos pretéritos, transcorram dentro de um clima de elevada compreensão, alegria impar e controlada, sem quaisquer exageros ou excessos, prejudiciais ao bom nome da grande e laboriosa família mariliense.

Feliz carnaval, leitores!

Extraído do Correio de Marília de 27 de fevereiro de 1960

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