Homens públicos no cinema (20 de janeiro de 1960)


Nós, confessamos, nada entendemos de cinema. Sabemos apenas apreciar um filme de conformidade com nosso gosto pessoal; isto é, podemos gostar de um filme tecnicamente fraco, ao mesmo tempo que podemos não apreciar um enredo extraordinariamente notável. O que nos prende na sala de projeção de um cinema, é o gênero da história do filme. Nada mais. Assim como existem as pessoas que gostam de filmes policiais, de revistas, de filmes de “far west”, de romances de amor, etc., nós também temos as nossos predileções. E, ao nos enquadrarmos na apreciação de uma película de nosso gosto, deixamos de analizar a parte técnica, as luzes, o sistema de fóco, etc., para observarmos, como leigos, apenas o enrêdo do filme. Aliás é isto mesmo que fazem quasi todos, com a diferença apenas que alguéns, sem entender patavina de arte cinematográfica, se dão ao luxo de comentar minúcias técnicas da película apreciada.

O assunto que nos levou a ocupar o espaço de hoje neste jornal não é bem êste. Vamos nos referir ao fato de que o ex e atual vice-governador do Estado deverá, brevemente, participar de um filme cinematográfico, “A Primeira Missa”, que dentro em pouco será rodado sob a direção do cineasta Lima Barreto. O general Porfírio da Paz participará desse filme, fazendo o papel de farmacêutico (como é) do celuloide, devoto sincero (como é também) de N.S. da Conceição Aparecida.

Segundo se sabe, o general Porfírio da Paz aquiesceu em emprestar essa colaboração ao Sr. Lima Barreto e também à firma “Campos Elíseos Cinematográfica” (que nada tem a ver com o governo, segundo consta, apesar do nome).

Acontece que Lima Barreto não ficou só no convite formulado ao vice-governador do Estado. Dirigiu-se também ao ex-governador Jânio Quadros pedindo ao atual candidato ao Catete, a sua participação num filme a ser rodado brevemente. Jânio concordou, conforme foi noticiado. Será também artista.

Para muitos, poderá causar espécie esse fato de que dois eminentes e famosos homens públicos do Estado, tenham concordado em se apresentar nas telas, como participantes dirétos de películas cinematográficas. Principalmente quando todos conhecem as peripécias e as odisséias que empreendem muitas pessoas, ao afã de galgar as escadarias da cinematografia, sofrendo no início, experimentando desilusões seguidas, ocasiões em que nem todos alcançam com facilidade, os píncaros da fama e da preferência pública.

Em verdade, não deixa de apresentar a causa em questão, um saborzinho de esquisito, uma coisa assim “sui generis”. Pensamos nós que está cérto. Está exato e não merece comentários de desastre ou mesmo de gozações, esse particular. Isto porque vem a atestar um dos mais exemplos da existência de nosso regime democrático, embora eivado de falhas. É mesmo confortador, o sabermos que dois homens públicos consagrados, tenham concordado em igualar-se neste pormenor, aos simples ou famosos artistas e aos humildes “pontistas” da cinematografia nacional, de igual para igual, sujeitos as mesmas exigências técnicas, de horários, de contratos, etc..

Não é mesmo um motivo de satisfação, o sabermos que no Brasil ainda desfrutamos do benfazejo ar democrático, tom bem expresso na Constituição, que nivela todos os brasileiros perante a lei e perante os homens?

Foi assim que vimos os convites formulados aos srs. Porfírio da Paz e Jânio Quadros, para a participação dêstes em filmes cinematográficos.

Assim é que respondemos o pedido do nosso leitor A. Alves, acêrca de como vimos nós, jornalistas, essa futura interpretação de Porfírio e Jânio.

Extraído do Correio de Marília de 20 de janeiro de 1960

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