Ano Novo, Vida Nova (1 de janeiro de 1960)






A própria história, em suas diversas facetas, nos garante uma espécie de compromissivo, compulsando todos os exultamento, à euforia, ao contentamento exteriorizado de uma alegria ímpar, pelo transcurso da efeméride do Ano Novo. E afirma, com sabedoria ou não, que em “Ano Novo, vida nova”.



A idéia é boa, convenhamos. Pelo menos para muita gente, especialmente aqueles que viram no ano que ontem findou, uma série de percalços, um ról de dificuldades ou de maus conhecimentos, aguardam ansiosos uma vida nova, uma vida diferente, modificada, metamorfoseada.



O fato é que 1959 findou. A realidade é que 1960 está “tinindo”, começando, prenunciando um conteúdo incógnito de acontecimentos enigmáticos, desconhecidos, imprevistos, desconhecidos, imprevistos. Nós, como todos os homens de bom senso, deixamos de bom grado que o manto do otimismo nos cubra da cabeça aos pés. A vida anda muito ruim, muito difícil, muito problemática ultimamente e o aceitar os bafejos de uma onda de otimismo, otimismo lógico, normal, natural, plausível, traduz os efeitos de um bálsamo, de uma oração reconfortante, uma esperança, uma sensação clara de que amanhã virá um dia melhor.



Precisamos disso, realmente. 1959 foi um ano negro para a maioria dos brasileiros. Maioria que sofreu, que penou, que expiou até seus pecados. Os “tubarões”, os atravessadores, os intermediários, os monopolistas e outros diversos tipos de ventosas da vida brasileira, não sabem ou não querem saber disso; mas essa realidade existiu, palpável, indestrutível, inquestionável, isso existiu. O custo de vida subiu exageradamente, desmedidamente. Os govêrnos, quer dos Estados, quer da União, tentaram estancar o dique da indecência e da imoralidade pública e não o conseguiram. E o nacional sofreu, penou. Esperneou, mas nada valeu. Gritou, mas nada adiantou. Protestou, mas nada serviu.



Enquanto isso, u’a minoria enriqueceu. Ganhou mais em 1959 do que em dezenas de anos anteriores.



Talvez o motivo de que a vida nova do ano novo tenha num dêsses fundamentos (que são fatos), a sua própria razão de ser. É justo, portanto, que todos aguardem esperançosos o transcorrer de 1960, não tão sòmente como um “ano novo”, mas, antes e acima de tudo, como o horizonte desenhado de uma “vida nova”.



Pactuamos e compartilhamos com êsses pensamentos. E vamos mais adiante: auguramos a todos, indistintamente, que 1960, traga em seu bojo, as venturas que os brasileiros merecem, a felicidade e a paz (social e de espírito) que somos dignos. Que Deus, o Divino Mestre, inspire aos nossos governantes, no sentido de que possam, saibam e consigam cumprir os seus deveres. Que realizem pelo menos a metade daquilo que prometeram nas campanhas eleitorais.



Que haja paz permanente no mundo. Que os homens se entendam, se confraternizem, se amem como irmãos. Que se não explorem entre si, que se não odeiem. Que sejam menos ambiciosos, menos gananciosos, mais humanos, mais cristãos. Assim, teremos todos uma “vida nova”, porque teremos as bênçãos dos Céus.



Ano novo, vida nova.



Sim; um ano novo, vida nova... mas seremos nós, todos nós, dignos de uma vida nova, diferente, diversa, modificada?



De nossa parte, leitores amigos, deixamos hipotecados aqui, os nossos votos sinceros de que o Ano Novo que hoje se inicia, traga a cada um dos marilienses, a felicidade que de fato cada qual merece.



Extraído do Correio de Marília de 1 de janeiro de 1960

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