Incrível, mas Verdade! (21 de agosto de 1959)


Somos brasileiros e bastante patriotas, com orgulho e a mercê de Deus. Mas que existem coisas nestes Brasis que andam permanentemente “fóra dos eixos”, isso existem. E o fato de referirmos tais razões palpáveis e indiscutíveis, em absoluto podem descolorir nosso espírito de patriotismo. Pelo contrário, o reconhecemos nossos erros, em sã consciência só nos poderá acarretar a certeza de que nos próprios somos honestos, antes e acima de tudo, conosco mesmos.

Mas vejamos o contraste flagrante que apresenta atualmente nosso Brasil, o decantado “país da riquesas”: Com tantas riquesas vivas e mortas, com tantas reservas de tudo o que seja possível imaginar e exigido pelo progresso do século, com a vastidão imensa de terras, com recursos os mais diversos, vivemos constantemente nas dependências de outros povos e outras nações.

Algumas dessas dependências são verdadeiramente injustificáveis e passíveis de censuras e condenação aos trabalhos da própria administração nacional.

De que adianta o atual Presidente da República ter ativado e prestigiado tanto a indústria automobilística nacional, se os carros brasileiros são tão caros como os estrangeiros? Enquanto o país progrediu nesse campo, pereceram outros de necessidade mais urgente. De que adianta estarmos agora em condições de exportar caminhões e automóveis, se até o feijão, que é alimento-padrão da mesa comum brasileira precisarmos importar?

A situação, nesse particular é negra e deprimente. Se estamos em condições de exportar veículos, a verdade é que estamos em crise de estômago.

Da maneira que caminham as coisas, não vai demorar muito em que nosso país caia em completo descrédito político e econômico perante todas as nações do mundo, até as menos progressistas. Logo estaremos importando feijão dos Estados Unidos, carne da Argentina, queijo da Suíça, trigo do Canadá (os falsos nacionalistas darão preferência ao trigo da Rússia), batatas da Holanda, azeite de Portugal, arroz da China etc., etc..

O Brasil vai bater, nesse passo, dentro em pouco tempo mais, o “record” de importações, inclusive dos mais comezinhos e corriqueiros gêneros alimentícios!

Depois dizem os poetas, nos seus versos para matar o tempo (ou a fome), que no Brasil, “plantando dá”. Acrescenta-se que no sólo brasileiro qualquer semente atirada ao chão, transforma-se lógo numa árvore ou num pé de cereal. Se é assim, porque o Govêrno ainda não atinou com isso?

Caminhamos mesmo para a primazia entre os países que mais importam. Até a Itália, a China e o Japão, que foram arrazados pela guerra, conseguiram recuperar-se e hoje arrotam grandezas (grandezas internas e grandezas morais), exportando suas manufaturas e carreando dinheiro para os cofres internos. Conosco, o negócio é diferente: Temos café. Café que vai perdendo terreno no mercado internacional, porque a Colombia e até a África concorrem conosco, sem que esperássemos jamais. Estávamos habituados a “dormir sôbre louros da vitórias” e a situação real aí está, nesse particular.

A situação é verdadeira, embora pareça incrível ou de razões simplistas.

Só uma coisa ainda não sabemos de que país iremos importa-la: É a vergonha, que está fazendo falta à muitos brasileiros!

Extraído do Correio de Marília de 21 de agosto de 1959

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)