“Em nome de Deus” (27 de agosto de 1959)


Encomiosa resolução acaba de ser votada pela Câmara Municipal de Antonio Prado, Estado do Rio Grande do Sul.

Pelo documento em aprêço, todas as sessões plenárias da mencionada edilidade, serão abertas e encerradas “em nome de Deus”.

Justificou-se a medida com a verdade (incontestável) de que todas as atitudes do homem, devem constituir-se sem mais preâmbulo, num áto seguido de admiração, louvores, lembrança e respeito para com Deus.

Medida magnifica, principalmente se bem intencionada e fielmente cumprida. Prova sobeja do respeito profundo, mercês plenas e reconhecimento total, antes e depois dos trabalhos, que, na aludida Casa Legislativa, se processam nas funções precípua e diréta em pról do povo.

Exemplo dignificante êsse o de serem iniciadas e terminados os trabalhos, “em nome de Deus”.

Pena que nem todas as Câmaras Municipais ou outros Parlamentos possam seguir êsse maravilhoso exemplo. Pensando bem, é melhor que tal sistema não procure ser seguido por muitos outros Parlamentos. Isto porque , o abrir-se uma sessão parlamentar “em nome de Deus” para em seguida ouvirem-se “coisas” e até palavrões, não deixa de ser um autentico sacrilégio. E encerrar-se os trabalhos, também “em nome de Deus”, depois de terem algumas pessoas se mostrado incapazes de uma compenetração e respeito ante a invocação do nome sagrado de Deus, será ainda a repetição do condenável e abjeto gesto.

Já bastam as atitudes semelhantes, que a miude ocorrem por êstes Brasis afóra, com palavrões e xingamentos recíprocos, perante a imagem de Cristo Crucificado, que se encontram nas salas das sessões das Camaras e Assembléias.

De qualquer maneira, a atitude referida, posta em prática pela edilidade de Antonio Prado, dá bem a convicção de que ali, seus homens se entendem e se respeitam. E ao se entenderem e respeitarem, rendem graças aos Céus, pela maravilhosa dadiva recebida. Porisso, iniciam e terminam seus trabalhos legislativos, “em nome de Deus”.

O povo de Antonio Prado, portanto, deve ser feliz; a demonstração de compreensão mútua, mercês do Paí Jesus e dos homens, a lembrança e a invocação do nome de Deus, dão bem à certeza disso.

Alí, pelo que se deduz, não devem imperar as ações de descompostura entre os vereadores, a troca de palavrões e xingamentos. E nem poderia deixar de assim acontecer, onde um núcleo dá começo e término às suas operações de representantes do povo, “em nome de Deus”.

Imaginem os leitores, tendo em conta as recentes demonstrações de pugilato verificadas na Assémbleia Legislativa do Estado, com que cara o presidente encerraria as sessões, invocando o nome de Deus, depois das cenas de “Far West” e, em alguns casos, até a intervenção de policiais em serviço naquela Casa!

Já pensaram nisso?

Extraído do Correio de Marília de 27 de agosto de 1959

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