Obrigado, Brasil! (4 de julho de 1959)

Algum leitor poderá ter se aborrecido conosco, quando, ver por outra, advogamos através desta coluna, os direitos dos “pracinhas”. Se tal acontecer, os que se encontrarem na condição citada, que atentem primeiramente para os motivos dessa contenda, antes de formularem qualquer juízo precipitado, que, invariavelmente, poderá ser errôneo.

Não apenas porque o autor desta secção seja também um dos soldados que contribuíram para a preservação da Democracia e Liberdade, lutando pelo Pavilhão Verde-Amarelo, na última guerra mundial. Absolutamente. Em nosso caso, por exemplo, nada reivindicamos em causa própria. Nossa luta, continua a ser em pról de desventurados companheiros, que, por motivos vários, fáceis de explicar por um psicanalista, não conseguiram reintegrar-se totalmente ao organismo da vida civil.

Citamos, há poucos dias, o caso de um “pracinha” de Marília, que, por motivos de comprovada perseguição de um superior, foi exonerado de suas funções da briosa Guarda Civil de São Paulo, quando estava lotado na Sub-Divisão de Presidente Prudente. Com seis filhos menores, com uma boa folha de serviços prestados à coletividade (porque a Guarda Civil não presta serviços à corporação e sim à coletividade paulista), o “pracinha” foi dispensado de suas funções, unicamente porque não se deixou ridicularizar por um superior hierárquica, que o agarrou pela camisa, rasgou-lhe as vestes a arrebatou-lhe de maneira ignóbil a placa numérica, espezinhando-o publicamente, numa ocasião em que o guarda não estava de serviço. O policial, fóra de suas atribuições de trabalho, é um cidadão como outro qualquer e ninguém pode privar-lhe o direito de conviver com a sociedade, como foi o caso do “pracinha” Raul Neves, que representou Marília no ultimo conflito mundial e que hoje se encontra na rua da amargura.

Nós não conhecemos o servidor que “aprontou a cama” de Raul Neves, mas sabemos e estamos informados de sua conduta em perseguir azoinadamente o “pracinha” referido. A respeito estamos até documentados.

Por isso, não silenciaremos. Se existem mais brasileiros ou pessoas que ainda não se deram ao trabalho de pensar e analisar a situação psíquica e biológica daqueles que combateram numa guerra moderna, frente a um inimigo experimentado na arte de matar, por certo ainda contamos com um número maior (graças a Deus), de bons brasileiros e bons patriotas, que não se acovardaram ante a realidade, que sentem ainda nas veias o latejar do sangue da gratidão por um dever cumprido, pelo pagamento de uma dívida sagrada: a dívida de ser herói (“a estupidez de ser herói” – David Nasser).

Como integrantes que somos da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil (entidade de âmbito nacional), sentimo-nos no dever de lutar em pról da reinclusão do “pracinha” Raul Neves, no efetivo da Guarda Civil de São Paulo. E isso estamos fazendo. E isso estaremos fazendo. E esperamos que nosso apêlo amoleça o sentimento de solidariedade humana e patriotismo do Sr. João Silvério Sobrinho, diretor geral da Guarda Civil de São Paulo, única pessoa que até agora está obstando o retorno de Raul Neves à aludida corporação. Isso podemos provar, com documentos escritos, do Palácio dos Campos Elíseos e da Secretaria da Segurança Pública!

A dispensa do “pracinha” Raul Neves, do quadro de militantes da Guarda Civil de São Paulo, é mais uma fórma de ingratidão da Pátria, aos que souberam servi-la. E, enquanto o Palácio do Govêrno e a Secretaria da Segurança Pública não voltarem atrás em suas afirmativas escritas que se encontram em nosso poder, continuaremos acreditando que o único inimigos dos “pracinhas” e especialmente inimigo figadal do “pracinha” Raul Neves, dentro de todo o organismo da Guarda Civil, é o seu diretor geral, quem está impedindo (conforme informações oficiais que dispomos), que o caso seja solucionado, com a revogação do áto oficial que exonerou nosso companheiro.

O diretor geral da Guarda Civil de São Paulo, como colaborador direto (e de confiança) do Sr. Governador, tem também a sua obrigação de contribuir com sua parcela, para que São Paulo (que o Estado líder da Federação), auxilie o Brasil a pagar a sagrada dívida do Tributo de Sangue. Sim, pois os homens do Govêrno são os mais autênticos filhos de u’a nação. E, bom é que se lembre, uma nação é uma Pátria e a Pátria deve ser mãe e nunca madrasta!

Obrigado, Brasil!

Extraído do Correio de Marília de 4 de julho de 1959

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