Não confundam, senhores! (12 de julho de 1959)

Não foi o primeiro, não. Foi mais um cidadão, antigo e respeitável mariliense aliás, que, ao conversar conosco, nos admoestou severamente, pelo fato de termos criticado, repetidas vezes, a atuação do atual Presidente da República.

Graças a Deus, vivemos num regime democrático, em que nós jornalistas, podemos dizer o que pensamos, expor nossas idéias da maneira que bem entendemos, falando inclusive mal de nossas autoridades, autoridades que nos defendem o direito de liberdade de pensamento e ação.

Bendita seja a Democracia!

Mas, como dizíamos, nosso amigo implicou conosco, pelo fato de termos criticado certos atos do sr. Juscelino Kubtschek. Êle pode ter as suas razões, como nós tempos as nossas também, é claro. Nós respeitamos os seus pontos de vista, como, pensamos, êle respeita também os nossos pensamentos. Sucede, entretanto, que êsse moço não se conforma com nosso procede e quer saber, à toda custa, o porque condenamos o atual govêrno brasileiro.

Já dissemos, incontáveis vezes, que nada temos contra o sr. Juscelino Kubtschek, o homem, o cidadão, mineiro, o político, o médico. Nossas críticas são para o cargo; contra o sr. Juscelino Kubtschek, o Presidente da República. Temos nossas restrições contra o seu govêrno, como muita gente tem. Acontece que nós não somos políticos e nossos desagrados têm algum valor, porque não objetivam interêsses, porque não têm alvos colimados, especialmente alvos de conveniências próprias.

Respeitamos o sr. Juscelino Kubtschek como o maior Magistrado da Nação, como o Presidente da República eleito pela maioria dos desejos dos brasileiros eleitores. Defendemos-lhe o direito de cumprir o mandato elevado para qual foi eleito fazendo votos para que acerte em todos as suas decisões, que de uma ou outra maneira, reverterão em pról do povo de nossa Pátria. Mas podemos, graças a Deus e graças à nossa Democracia, criticar-lhe os átos, desde que o façamos em têrmos, de maneira decente, leal e respeitosa. É isso é o que vimos fazendo todas as vezes que abordamos tão melindroso assunto.

Sabem os leitores que já censuramos inúmeras vezes diversas ações do sr. Juscelino Kubtschek e que continuaremos a condenar diversos de seus átos. Igualmente sabem os leitores que, quando da hostilização pública da Associação Rural de Marília contra o Presidente da República, nós sem que significasse a quebra de nossa maneira de pensar, nos pusemos ao seu lado, na defesa de seu nome e de seu ilustre e honrado mandato eletivo. Sabem igualmente os leitores que diversas vezes citamos ações de seu govêrno, analisando-as meticulosamente e manifestando nossa formal e contrário ponto de vista.

Citamos toda uma infinidade de coisas da atual administração federal, conforme devem nossos leitores estar lembrados. E, para testemunhar ainda mais nosso ponto de vista aqui vai mais uma: Nos últimos discursos do sr. Kubtschek, podem ter todos notado, o Presidente abordou mais distanciadamente a questão dos preços no país. Não falou no mito do congelamento como igualmente não falou em nenhuma outra medida destinada a deter a carestia nacional. Pelo contrário, falou até de uma suposta baixa do custo de vida! Falou em auxílio à produção, discorreu sôbre a criação de novas zonas agrícolas vizinhas aos grandes centros, falou sôbre transportes, falou enfim sôbre uma série de outras coisas que nós já conhecemos de sobejo, que não tem solução e que sôbre elas sempre se fala. Mas o sr JK não falou nada acêrca dos verdadeiros motivos que contribuem para o alto custo de vida no país, não falou na famigerada e inerte COFAP, nas suas “filhas” COAPS e COMAPS, num sinal evidente, de que o govêrno ainda não descobriu o mínimo múltiplo comum das verdadeiras razões da carestia no país.

Esqueceu-se S. Excia. que não adianta produzir mais, plantar mais, pois tudo é tolice, a ganância devora tudo. O sr. JK precisa descobrir, enquanto é tempo, que o problema do Brasil não é produzir mais; o problema é furtar menos.

Extraído do Correio de Marília de 12 de julho de 1959

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