Futebol feminino (7 de junho de 1959)

Consta ser proibida no Brasil, a prática do futeból pelo elemento feminino. Não sabemos se a proibição obedece lei específica ou é consequência de regulamentação apenas, emanada por autoridade desportivas. O cérto é que o citado esporte, bem como o “hockey” e o “baseball” não podem ser praticadas entre nós pelo sexo fraco.

Mesmo assim, na cidade de Araguarí, em Minas Gerais, fundou-se um clube de futebol feminino. Onze moças dispuzeram-se a praticar o aludido esporte e não se preocuparam muito com a necessidade de usarem pesadas chuteiras. Após os primeiros ensaios coletivos do esquadrão que foi batizado com o nome de “Araguarí”, surgiu uma equipe adversária, na mesma cidade: o “Fluminense”. Aí o assunto “pegou fogo”. As duas representações principiaram a exibir-se ao publico araguariense, lotando os estádios e conseguindo excelente arrecadações, pois o interesse despertado em vista da originalidade do fato foi deveras acentuadíssimo. As esquadras principiaram a jogar também em outras diversas cidades do Triângulo Mineiro. O “Araguarí” mostrou desde o início maior entusiasmo e maior harmonia de conjunto, com maior persistência e resistência. Por sua vez, o “Fluminense” não conseguiu encontrar sua melhor formação por diversos motivos e a equipe “tricolor” acabou por desaparecer. Não tendo adversárias, as moças do “Araguarí” viram-se na contingência de provocar a constituição de outra equipe e como esta não surgisse, formaram elas próprias mais um “team”, ficando com os times “A” e “B”. Assim, as duas esquadras puderam continuar a jogar e a realizar suas excursões, atingindo também o interior do Estado de Goiás, onde ser exibiram provocando excepcional concorrência pública aos estádios.

Tudo ia indo muito bem, mas a Federação Goiana de Futeból proibiu em sua jurisdição esportiva, a realização de partidas de futeból pelo elemento feminino. Justificou a proibição na própria fisiologia da mulher sem ter tocado na parte da originalidade ou do aspecto formal da prática, sem ter ainda se preocupado se os jogos eram realizados com o espírito comercial ou não. A proibição foi pura e simples.

Depois disso, a notícia despertou interesse, como não poderia deixar de ser. E esses interesses em tôrno da proibição do futebol feminino atingiram o estado montanhês e neste a cidade de Araguarí, que teve a primazia em organizar e manter um quadro de futeból feminino. Então surgiram opiniões divergentes; os que apoiam o ponto de vista da Federação Goiana de Futeból, em que justifica a proibição em vista da própria biologia da mulher, cujo organismo é completamente diverso ao do homem e a outra parte, a que continua favorável e defendendo a prática do esporte das multidões pelas representantes do sexo chamado frágil.

As coisas estão nesse pé, até o momento. Mesmo assim, as duas equipes do “Araguarí”, continuam, vez por outra, a realizar as suas partidas de “pé bóla”. As vitórias são comemoradas entusiasticamente e até “bichos” são distribuídos às jogadoras; igualmente, as derrotas são choradas copiosamente pelos elementos do quadro derrotados.

Os “impasse” perdura ainda e não sabemos como será o seu desfecho, uma vez que as duas correntes, a pró e a contra, aumentaram agora. A força contrária justifica o impedimento com uma série de fundamentos de ordem fisiológica, quasi “virando no avêsso” o próprio organismo feminino. A parte favorável apenas para o sentido da originalidade, invocando o espírito do desporto sadio, a prática leal, justificando a igualdade de forças (uma vez que as moças só enfrentam moças no campo) e concluindo que as jogadoras passas pelos mesmos testes clínicos que os homens que jogam futebol.

Quem vencerá a parada? Isso é que não sabemos, mas, de qualquer maneira, a cidade de Araguarí está sendo agora bastante movimentada, segundo uma notícia que vimos num jornal de Belo Horizonte. O fato é que o assunto tem o seu sabor de “sui feneris” e nós, que temos visto tanto futeból e tantas “peladas”, bem que gostaríamos de ver vinte e duas moças de unhas cortadas, cabelos presos, de calções e chuteiras, correndo e “driblando” num quadrilátero de futeból. Deve ser interessante, mesmo a título de curiosidade, não acham?

Extraído do Correio de Marília de 7 de junho de 1959

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