Pão & Circo (27 de maio de 1959)

Em nossa cidade, ultimamente, o preço do pão subiu por um meio indireto, apesar de não ter passado despercebido a ninguém. Não subiu a cotação do tabelamento, tendo, em compensação, diminuído sensivelmente o tamanho do produto, o que deu na mesma para o consumidor; deu na mesma, não; piorou muito, porque o pão “encolheu” admiravelmente entre nós.

Os panificadores justificam as razões dêsse aumento indiréto, que atingiu diretamente o público consumidor, em face da alta do custo da farinha e em decorrência de dificuldades na aquisição dessa matéria prima. Percebe-se no caso, dois motivos distintos; ou a margem de lucros não obedece a um limite fixo e razoável, ou existe um erro de origem, no que tange a um melhor disciplinamento de distribuição de cótas pelas moageiras ou firmas distribuidoras. Consta-nos até que alguns distribuidores, para a venda da farinha de trigo, estão exigindo um “tanto por fóra”, não computado nas competentes notas fiscais. Se verdadeira é a versão aludida, além da “operação lesa fisco” que decorre de tal fato, onera-se o público de maneira mais acentuada, porque a manipulação dêsse precioso alimento, deverá apresentar um lucro, além do normal calculado em face ao custo, despesas e impostos, para que seja possível ao industriário obter a compensação do “quantum” pago oficiosamente.

A situação, pelo que se póde notar, tente ainda a piorar. Não há muito, o “Pastifício Marília” alertou os marilienses, acêrca da viabilidade de encerrar o fabrico de suas massas, em virtude de dificuldades de obtenção de farinha. Tal fato não deverá estar sendo verificado apenas em Marília e sim no Estado todo, é lógico. Para agravar ainda mais a situação, garantem os estatístico que a produção dêsse cereal nos Estados sulinos, está decrescendo de maneira fantástica.

Até há pouco, a produção de trigo no sul do país, especialmente no Rio Grande, vinha aumentando gradativamente e o produto nada ficava a dever, em qualidade, aos melhores de diversos países do mundo. E o trigo brasileiro apodrecia na fonte produtora, por falta de bons preços aquisitivos ou por deficiência de transporte.

Somos mesmo um povo às avessas em muitos sentidos, não há dúvida. Os govêrnos (atual e pretéritos), jamais se preocuparam de maneira decisiva, a amparar a cultural do trigo nacional, garantindo-lhe um preço mínimo por ocasião das safras, com a fixação do preço této no comércio, de maneiras a que o lucro de certos intermediários fosse delimitado razoavelmente, sem que dos costados do público brasileiro continuassem a sais mais tiras de couro.

Por outro lado, se tal acontecimento se tornasse realidade (uma vez que é indiscutível necessidade), poderíamos nós, em poucos anos, colher o trigo necessário ao consumo interno, fazendo mesmo frente ao mercado exterior e economizando muitos milhares de cruzeiros em divisas.

Apesar da grave, o problema não conseguiu ainda despertar a consciência de brasilidade de govêrnos e legisladores, pois aqueles mais se preocupam em demagogias, pomposidades e inaugurações e êstes se interessam mais em adquirir caríssimos “cadillacs” ao câmbio oficial. À eles e não a nós, caberá a responsabilidade do futuro, que se antevê negro nesse particular.

E dizer-se que o Brasil já foi exportador de trigo!

Extraído do Correio de Marília de 27 de maio de 1959

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