Desculpa Esfarrapada (14 de maio de 1959)

No plenário da Câmara Municipal, foi lido um ofício da Fundação da Casa Popular, em que o sr. Marcial Lago apresentou as razões do porque não foram construídas as casas populares em Marília.

O teor do ofício e as justificativas esplanadas, causaram espécie entre os marilienses, como não poderia deixar de ser, mercê da desculpa esfarrapada que apresentou.

O sr. Marcial Lago teve a desfaçatez de afiançar aos marilienses, que o núcleo das casas populares prometido à cidade, só poderá ser construído após o Govêrno do Estado saldar uma dívida de 265 milhões de cruzeiros para com a Fundação.

“Desculpa de aleijado é muleta” – afirma velho adágio. O que existe de fato, é expressa má vontade ou indisfarçável prevenção contra Marília, uma vez que nossa cidade atendeu, de imediato, as exigências da F. C. P., apresentando-lhe o terreno em doação pura e simples, dotado de água e luz, condições mínimas determinadas pelo citado órgão.

É que as providências tomadas pela Prefeitura de Marília talvez foram inesperadas pela F. C. P. e pelos “doutores promessas” que por ali transitam, como por exemplo a deputada Ivete Vargas, e, dest’arte, a própria Fundação viu-se em “palpos de aranha” para cumprir o prometido. Deixou-se então “correr o tempo”, na leve e vã esperança que os marilienses se conformassem com a situação. Quando, desiludidos com a espera e impacientes com a falta do cumprimento da palavra empenhada, cobramos do sr. Marcial Lago a execução da promessa, após ter o mesmo, lançado um repto aos prefeitos de todo o interior. O homem, entretanto, não teve nenhuma saída mais condigna para o caso. Não poderia exigir os detalhes mínimos de terreno com luz e água, porque tais ocorrências já eram de há muito, coisas concretas entre nós. Então, à guisa de desculpa – desculpa esfarrapada –, saiu-se agora com a “esplicativa” de que Marília só receberá tais benefícios, após o Govêrno do Estado saldar dívida contraída com aquele corpo. Francamente, sr. Lago, francamente!

Então, é admissível a desculpa que se nos apresentou, agora, depois de passados cinco anos? Só agora o sr. Marcial Lago percebeu que a construção das casas populares em Marília estava condicionada (sem que nós o soubéssemos, porque é um absurdo) à solvicão de dívidas do Estado?

O sr. Marcial Lago está usando dois pesos e duas medidas. Em Lins, Itú e outras cidades, as casas populares foram construídas porque os Prefeitos apresentaram os terrenos dentro das condições atendidas por Marília. E nesses centros, o sr. Marcial Lago não se preocupou em exigir, primeiro, o pagamento das dívidas do Govêrno Estadual, só tendo lançado mão dêsse expediente inequânime, com respeito a Marília. Tal fato nos credencia a julgar o antes afirmado, de existência de expressa má vontade ou prevenção contra nossa cidade. E assim continuaremos pensando, até que o sr. Marcial Lago não nos prove o contrário.

A desculpa é esfarrapada, repetimos. Um tipo assim de desculpa infantil, tal qual o garotinho que ameaça não fazer a tarefa da escola enquanto não lhe for dado o doce de côco!

O sr. Marcial Lago poderá ter outras razões, que, se nos forem apresentadas e justas forem, poderemos acatá-las. Entretanto, na forma e no pé que se encontram as circunstâncias referidas e conforme “vem andando o carro”, dificilmente “engoliremos” as “razões” apresentadas e constantes do ofício lido no plenário da Câmara Municipal!

Extraído do Correio de Marília de 14 de maio de 1959

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