Propaganda gratuita? (26 de fevereiro de 1959)

Deu-se o fato não há muito. Seus efeitos repercutiram e o éco perdura até hoje.

Falou-se em Marília, por todos os meios e modos, que a Cervejaria Brahma, ao pretender instalar uma de suas fábricas aquí, fôra afugentada pela para a vizinha cidade de Vera Cruz, em face da exorbitância dos preços dos terrenos cogitados em Marília, para o fim de referência.

Óra, se os marilienses de modo geral e os poderes públicos de maneira especial empenham-se seguidamente e sob todos os aspectos e possibilidades, no sentido de que Marília possa continuar sua marcha elevatória de progresso, justa foi a repercussão do acontecimento. E assim, durante vários dias, só se falou nessa questão, num misto de pessimismo, esperanças esburacadas e certa espécie. Os jornais comentaram o fato, idem as emissoras e também o público. A Câmara tomou partido, discutiu a questão e concluiu pela designação de uma comissão de edís, para estudar o problema, diretamente com os dirigentes da Bhahma.

Por outro lado, os veracruzenses, com justas razões, tornaram-se eufóricos, ao terem ciência da possibilidade da Brahma alí sediar uma de suas cervejarias.

O caso, segundo deduzimos nós, é bem outro. Embora nada tenha de censurável, é digno de ser relatado aos nossos leitores. E o estamos fazendo, por dedução ou por intuição. Vejamos então:

A Brahma demonstrou possuir um departamento de publicidade sagaz e eficientíssimo. Tanto assim, que logrou fazer uma propaganda enorme em tôrno de seu nome e de seus produtos, completamente “grátis”. Por vários dias ninguém falou em outra coisa, a não ser na Brahma.

Pusemo-nos a campo, para descobrir o que de verdade existe sôbre o fato. E tivemos uma surpresa. Surpresa mesmo, quando procuramos o japonês proprietário do terreno e da fonte de água natural, que, segundo se propalou, teria pedido um preço proibitivo, espantando os dirigentes da Brahma. E o nipônico arregalou os olhos, incrédulo, ao conhecer nossa missão. É que êle não sabia de nada acêrca de algum comprador para sua propriedade. Tanto não sabia, que nos confessou estar interessado em vender a fonte e mostrou inclinação indisfarçável pelos primeiros contatos com a parte que se disse estar interessada.

Vejam aí os leitores, como funcionou bem o departamento de propaganda da Brahma! Ninguém esteve em contacto com o japonês proprietário do terreno, êste nada sabia, e a notícia circulava por aí, levada aos quatro ventos e comentada de boca cheia em todos os cantos da cidade!

Ninguém esteve em contacto com algum dirigente da Brahma com respeito a essa questão. Portanto, “até aí morreu o Neves”.

Isso foi a conclusão nossa. Se errados estamos, a boa intenção em esclarecer o fato está antecipadamente apresentada.

Se estivermos certos, conforme pensamos, aquí fica êste nosso artiguete, como nossa contribuição também ao estrondoso sistema publicitário (sem ônus), no caso empregado pela Cervejaria Brahma.

Extraído do Correio de Marília de 26 de fevereiro de 1959

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