Essa, não! (14 de fevereiro de 1959)

A notícia vem de fora. Da Califórnia, Estados Unidos.

Parece fantástica, mas é real. Assemelha-se incrível, mas é verdadeira. É inédita. Vejamo-la, tal qual como nos chega ao conhecimento:

“Uma fábrica de conservas da Califórnia, começou a lançar no mercado refeições completas em lata, para homens solteiros.

Cada lata contém um cupom e o possuidor de 100 cupons tem o direito de apresentar-se no escritório local da fábrica, onde um funcionário encarregado facilitará o seu encontro com uma jovem, elegante e bonita, com a qual poderá casar...

O “slogan” da fábrica é: “de nossos almoços aos banquetes de casamento...”

As vendas dêsses produtos alimentícios aumentaram 10 vezes, quando foi publicamente anunciado que as moças apresentadas nos escritórios da fábrica de conservas são bonitas de verdade, boas donas de casa e que tratam o assunto seriamente.

Vejam os leitores, até que ponto a perspicácia comercial explora o sentido da propaganda!

Distribuindo moças casadoiras, pode-se dizer. Oferecendo mulheres para casamento!

É o sinal dos tempos, sem dúvida, como afirmaria o novelista inglês. Pode ser. Para nós, é a decadência inquestionável da própria moral, pois o fato mais importante na vida do homem e da mulher, que é o casamento, passa assim, a constituir-se num motivo abjeto. Imaginem os amigos leitores, qual será o grau de porcentagem feliz e completa num enlace matrimonial surgido em decorrência dêsses fatos. A mulher sorteada, como um objeto de uso comum, através de 100 cupons distribuídos nas referidas refeições enlatadas para solteiros!

“Gozado” mesmo, êsse “negócio”.

A notícia não dá conta alguma de “câmbio negro” na venda de cupons dêsse tipo, mas certamente tal prática existe. Muitos homens estarão interessados em “amarrar-se” e por certo se impacientarão com a demora em juntar 100 papeletes que “valem u’a mulher”. Por outro lado, as “mulheres-prêmio”, estarão inegavelmente ansiosas por serem contempladas, sequiosas para se constituírem na “carga” de algum “burro”. Essas cogitações não podem mesmo ser afastadas do ról do acontecimento.

Um assunto seríssimo como o casamento (ou mesmo o namoro), explorado de maneira tão rude e condenável como essa, é um caso que dá para pensar.

Aliás, sob outro aspecto, nós já temos, no Brasil, processo mais ou menos semelhante. Trata-se das diversas secções de intercâmbio de correspondência, mantidas por algumas revistas. E o curioso, é que grande parte das divulgações que empregam o referido sistema, são, inegavelmente, atentatórias a própria moral, combatidas seguidamente por autoridades competentes.

Todos ou quase todos conhecem êsse tipo de intercâmbio que estamos referindo. E aqueles que já se deram ao trabalho de ter e analisar os anúncios dêsse jaez, constatarão, com facilidade, que as boas intenções num casamento seguro, se apresentam nesses anúncios, em índice verdadeiramente baixo. A maioria ostenta a inequívoca condição de intenções terceiras!

Poderá alguém dizer que, no nosso caso, só escreverá ou responderá tais anúncios, quem quer. Fato, porém a questão é mais grave do que parece e poderia merecer até melhores atenções de nossas autoridades. Da maneira como está sendo procedido o mencionado expediente, está oferecendo margem não só a encontros escusos, como, em certos, a motivos condenáveis. Vejamos, por exemplo, um anúncio que lemos numa dessas revistas, e que está assim redigido: “Moço rico, solteiro, boa situação financeira e possuindo automóvel, deseja corresponder-se com moças louras ou morenas, de qualquer idade, que sejam independentes e que gostem de bailes, praias e passeios”.

Precisa-se ser muito inteligente para perceber o real interêsse ali contido?

Extraído do Correio de Marília de 14 de fevereiro de 1959

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