Cessou a folia... (12 de fevereiro de 1959)
Findaram-se os quatro dias que constituem o chamado tríduo carnavalesco. Acabou a barulheira noturna dos bailes de Mômo, o cheiro fraquíssimo de pouco lança perfume.
Em Marília, praticamente, não existiu o denominado carnaval de rua. E não poderia mesmo existir, tão cara e difícil ainda a vida atual.
Milhares e milhares de pessoas, permaneceram pacientemente algumas horas postadas ao longo das duas margens da Avenida do Fundador, procurando “ver” o carnaval que não existiu. Não fôra a caprichosa abnegação de Consuelo Castilho, ninguém poderia jamais justificar a “pernada” inútil ao centro da cidade.
Consuelo e seus partidários, com as “invenções” estrambólicas, proporcionaram qualquer coisa para que o povo não ficasse alí plantado vendo veículos desfilar e “tomando banho” de bisnagas. Poder-se-á dizer que as apresentações do “C. C.”, afóra as das crianças, foram as mais inocentes do carnaval. A baleia “Moby Dick”, o “Galo” (que mais parecia um pavão de cauda fechada) e o touro e toureiros, foi o único que existiu de carnaval de rua em Marília. O mais foi um desfile de carros, algumas crianças esforçando-se para entoar marchinhas carnavalescas, moleques correndo de um para outro lado e muita gente esperando ver o que não existiu.
Bem, o carnaval passou. Olvidemos os festejos de Mômo e reiniciemos a luta cotidiana, a luta do ganha-pão. Até a natureza, parece, convida-nos a meditar sobre a divergência do transcorrer dos dias de carnaval e quaresma. O ar, o vento, a temperatura, tudo, tudo, divergem entre sí. Diferenças extraordinária, convidando a pensar, a meditar, sobre o acontecimento que marcou com seu fim, o início do fato mais importante da história da cristandade.
Ontem, alegria desmedida de um lado, forçada de outro, improvisada por outro.
Hoje, tudo diferente. Até o ar, o cântico dos pássaros, o Ego de qualquer um, apresentam um contrate palpável e inalienável.
São passagens naturais da vida das gentes, dir-se-á então. Todo ano é assim.
Nós diríamos que não. As coisas estão se modificando. O carnaval, em verdade, deixou de ser como no passado. O de rua, que éra o ponto alto do acontecimento, deixou de existir. Com ele, como o vento que escapa de uma câmara de ar alfinetadas, fugiu de módo geral, aquela beleza das brincadeiras sadias, das quais participavam grandes e pequenos, póbres e ricos, brincando com entusiasmo e tirando uma justificada fórra das agruras da vida.
Certo é que ninguém poderá mudar essa metamorfose facilmente, porque a tramutação do fato vem ocorrendo gradativamente, bem cimentada.
De qualquer maneira, ainda existem os que buscaram nos festejos carnavalescos, um brinquedo é uma distração sadia, moral, insuspeita. Se existe o número dos que assim não pensam ou assim não agem, esse número, graças a Deus, ainda é minoria.
Felizmente.
Extraído do Correio de Marília de 12 de fevereiro de 1959
Em Marília, praticamente, não existiu o denominado carnaval de rua. E não poderia mesmo existir, tão cara e difícil ainda a vida atual.
Milhares e milhares de pessoas, permaneceram pacientemente algumas horas postadas ao longo das duas margens da Avenida do Fundador, procurando “ver” o carnaval que não existiu. Não fôra a caprichosa abnegação de Consuelo Castilho, ninguém poderia jamais justificar a “pernada” inútil ao centro da cidade.
Consuelo e seus partidários, com as “invenções” estrambólicas, proporcionaram qualquer coisa para que o povo não ficasse alí plantado vendo veículos desfilar e “tomando banho” de bisnagas. Poder-se-á dizer que as apresentações do “C. C.”, afóra as das crianças, foram as mais inocentes do carnaval. A baleia “Moby Dick”, o “Galo” (que mais parecia um pavão de cauda fechada) e o touro e toureiros, foi o único que existiu de carnaval de rua em Marília. O mais foi um desfile de carros, algumas crianças esforçando-se para entoar marchinhas carnavalescas, moleques correndo de um para outro lado e muita gente esperando ver o que não existiu.
Bem, o carnaval passou. Olvidemos os festejos de Mômo e reiniciemos a luta cotidiana, a luta do ganha-pão. Até a natureza, parece, convida-nos a meditar sobre a divergência do transcorrer dos dias de carnaval e quaresma. O ar, o vento, a temperatura, tudo, tudo, divergem entre sí. Diferenças extraordinária, convidando a pensar, a meditar, sobre o acontecimento que marcou com seu fim, o início do fato mais importante da história da cristandade.
Ontem, alegria desmedida de um lado, forçada de outro, improvisada por outro.
Hoje, tudo diferente. Até o ar, o cântico dos pássaros, o Ego de qualquer um, apresentam um contrate palpável e inalienável.
São passagens naturais da vida das gentes, dir-se-á então. Todo ano é assim.
Nós diríamos que não. As coisas estão se modificando. O carnaval, em verdade, deixou de ser como no passado. O de rua, que éra o ponto alto do acontecimento, deixou de existir. Com ele, como o vento que escapa de uma câmara de ar alfinetadas, fugiu de módo geral, aquela beleza das brincadeiras sadias, das quais participavam grandes e pequenos, póbres e ricos, brincando com entusiasmo e tirando uma justificada fórra das agruras da vida.
Certo é que ninguém poderá mudar essa metamorfose facilmente, porque a tramutação do fato vem ocorrendo gradativamente, bem cimentada.
De qualquer maneira, ainda existem os que buscaram nos festejos carnavalescos, um brinquedo é uma distração sadia, moral, insuspeita. Se existe o número dos que assim não pensam ou assim não agem, esse número, graças a Deus, ainda é minoria.
Felizmente.
Extraído do Correio de Marília de 12 de fevereiro de 1959
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